terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cem Estórias da minha Fé


As Dedicações em retribuição ás Graças Divinas


Como contei em outro capítulo, houve época em que a maioria das pessoas que recebiam graças através do johrei, sequer pensavam em reverter em donativo de agradecimento o dinheiro que necessitariam usar com médicos, caso não tivessem sido curadas com o johrei. Principalmente por volta de 1945, essa situação era mais acentuada. Aqueles que, recebendo a Luz de Deus, tinham sua vida salva, traziam, por exemplo, cinco caquis verdes; tuberculosos que estavam postados no leito há longos anos, em gratidão, ofereciam algo como três sabonetes baratos, e achavam tudo muito natural.

Portanto, não era nada fácil juntar dinheiro dessas pessoas para utilização nas obras de difusão, havendo épocas em que até se hesitava em tocar no assunto. Em 1949, houve um comunicado do Rev. Shibuí, que desejava obter colaboração na construção do Nikko-Den (Templo da Luz do Sol), no valor de 40 milhões de ienes. Ficaria estabelecido que, uma vez que a difusão já ia entrando nos devidos eixos, esse total seria levantado por três regiões. A Região Leste, sob responsabilidade do Rev. Iwamatsu, que ficou incumbido de obter 15 milhões de ienes; a Região Centro, da qual eu era responsável, se encarregou também de obter 15 milhões de ienes; e os 10 milhões restantes deveriam ser conseguidos através das demais localidades. Quinze milhões de ienes era uma grande soma. Não seria possível consegui-los, simplesmente dizendo aos membros que seria ara o bem da construção.
Por outro lado, se fosse explicar somente sobre a importância do servir, seria muito abstrato. O valor da Luz de Deus não seria calculável em dimensões materiais. É realmente difícil expressar, concretamente, essa gratidão. Visando também á elevação da fé dos membros, travei diálogos como o que vem adiante. Na época, necessitava-se de cerca de 250 ienes para receber o Ohikari e filiar-se á igreja. Por exemplo, aos que encaminhavam 10 pessoas, eu perguntava o seguinte: 

Considerando dez Ohikari, qual o valor representativo de sua Oferta de Gratidão?
Como são 250 ienes por pessoa, sendo dez, o total seria 2.500 ienes. Então, isso significa que, através da força do Ohikari que recebeu você pode encaminhar e ministrar johrei em dez pessoas. Já tentou calcular a gratidão que isso representa? Você teve a grata experiência de ministrar johrei para os outros e, através disso, constatou a Força de Deus, pelo menos em relação a dez pessoas, não é?
Sim...

Então, se fosse representado em dinheiro, o seu Ohikari valeria 2.500 ienes. Portanto, eu poderia comprá-lo por esse valor e você reverteria essa soma em donativo. E receberia um novo Ohikari. Se for o Ohikari de quem encaminhou 100 pessoas posso comprá-lo por 25.000 ienes. 
Dessa forma, cheguei a conversar minuciosamente sobre o sentimento com que deviam se empenhar no servir á Obra. Havia também pessoas que recebiam um quadro desenhado. Por quanto você me venderia este quadro? Não tenho a mínima intenção de negociá-lo. É que existe uma pessoa que deseja comprar. Poderia cedê-lo por 50.000ienes? Reverendo já disse que não está á venda. Então, eu mesmo poderia comprá-lo por 50.00 ienes, se você utilizar essa quantia para oferecer donativo, significa que você o fez. Isto por que você possui algo com esse mesmo valor, simplesmente por ter ingressado neste caminho.

Pode deixar Reverendo, que eu mesmo farei o meu donativo, pois desejo permanecer com este quadro como símbolo do recebimento da Força de Deus. Dessa forma, foi se acumulando tanta oferta de gratidão que todos ficaram espantados. Ao mesmo tempo, os membros se conscientizavam, dentro de sua fé da força que haviam recebido de Deus. Eles ficavam gratos e felizes por poderem praticar a gratidão e o servir á causa de Deus. O encaminhamento de dez pessoas á Fé Messiânica significa ter trabalhado dez vezes para a Obra Divina; quem encaminhou 50 ou 100 pessoas á Fé, representa ter trabalhado 50ou 100 vezes, respectivamente. A convicção de que recebeu8 uma valiosa força da qual não pode abrir mão, por permitir participar da Obra de Deus, é que se torna a raiz de uma fé inabalável.
Essa firmeza é o seu patrimônio invisível. Além disso, como é uma força que se recebeu de Deus é um tesouro ilimitado. Quando pessoas possuidoras dessa força utilizam a matéria que se chama dinheiro, para a concretização da Obra Divina para que ela se amplie cada vez mais, estarão tornando a matéria em luz ainda mais potente. A matéria foi criada por Deus e o homem a utiliza. Ao reservar parte dela para dedicá-la a Deus, é que poderá recebê-la multiplicada muitas vezes. Porém, o ser humano a monopoliza, sem retorná-la á Obra de Deus. É muita presunção achar que tudo que conseguiu com o fruto do trabalho são somente seu. Ao fazer uso de parte da matéria, que recebeu por Bênção Divina, para o bem de Deus, dos seus semelhantes e da humanidade, a própria matéria ganha vida. 

Se conservar o dinheiro apenas para si, ele é um dinheiro morto. Ofertando-o ao trabalho de Deus, ele passa a ter vida. É uma constatação que todos entendem, mas, na realidade não conseguem praticá-la facilmente. Apesar de ter no coração o entendimento de que isso é dedicação e servir, a maioria continua sem pô-lo em prática efetivamente. Meishu-Sama nos ensina que a beleza da Grande Natureza é o silencioso ensinamento de Deus, e que a matéria é a materialização do espírito da água.
Observando a Grande natureza, o que podemos captar de sua beleza?Vendo o rio que, permeando vales e planícies, desemboca no mar, podemos apreender o mecanismo da grande circulação da água. O filete de água, que nasce na montanha, se junta ao que brota do subsolo, e outros filetes também se unem para formarem a corrente que se chama rio, e que termina no mar, onde evapora formando as nuvens, retornando á terra em forma de chuva. Não ocorre o rio ir somente para o mar ou apenas aos céus. A água sempre circula e desenvolve a vida. O homem que se coloca no meio dessa circulação, pode usufruir dessa água.

Além disso, quando nos atemos ás palavras do Mestre, de que a matéria é a materialização da água, vemos que, ao se fazer a matéria circular, é que o seu valor passa a ter significado. Assim, a matéria que cada um conseguir, não é mais do que algo que Deus lhe emprestou temporariamente. Se conseguirmos vivificar tudo plenamente, é natural que ele nos conceda muito mais. Se guardarmos tudo para nós, pensando somente em nosso benefício, a matéria não terá vida, e tampouco Deus nos concederá mais. Primordialmente, não existe nada que seja verdadeiramente nosso. Tudo nos é emprestado por Deus. Isso se aplica não só á matéria, como ás pessoas que conduzimos ao Caminho da Fé, á esposa e aos filhos. Caso admitamos que tudo nos fôssemos emprestado, a maneira de encarar as coisas se torna diferente. Se alguém, sob nossa responsabilidade, é realmente inteligente e habilidoso, devemos estar gratos, pois Deus nos colocou essa pessoa junto a nós; ao contrário se a pessoa for problemática, devemos admitir que fosse por termos de aprender com ela que Deus a colocou á nossa frente. Não podemos, em hipóteses alguma, responsabilizar terceiros pelo que passamos. 

Podemos notar naquilo que expus acima, o fundamento do servir em ser a maneira de retribuir a Deus os benefícios que dele recebemos. Mesmo que percebamos isso tudo, se não houver ação a partir daí, não demonstraremos o verdadeiro entendimento. Cada ação é um autêntico Servir a Deus. E quando o praticamos, podemos nos empenhar em evidenciar a trilogia sentimento – palavra – ação. Existe uma comemoração chamada Kanreki, realizada quando a pessoa comemora 61 anos de vida. Ela encerra o significado de começar uma nova existência, retornando tudo ao início. Nessa ocasião, é costume o aniversariante escrever a letra “KA” (que tem significado de “florido”, “festivo”) em pergaminhos, e distribuí-los. Talvez esse hábito se tenha difundido porque chegar aos 61 anos seja algo muito memorável ou que essa letra seja para representar o florescimento máximo da vida.

Dissecando esta letra por outro ângulo, podemos ver algo interessante. Ela é constituída de seis letras, que significam “dez”, mais uma letra, que significa “um”, e isso totaliza 61. Vejamos também a palavra “hooshi” (servir, dedicar). Nesse caso, temos seis letras, que significam “dez” umas que quer dizer “um” e duas, que tem o sentido de ”pessoa”. Isto quer dizer que, aos 61 anos somos somente duas pessoas. Acho realmente interessante que na palavra “hooshi” esteja encerrado o significado de “fazer retornar as coisas a Deus”. 
E isso é feito através do homem, o que acho ainda mais interessante. De qualquer forma,quando praticamos o servir que retorna a Deus, podemos sentir a força de luz que recebemos dele, através de nossa própria pessoa. E, novamente, temos de voltar o poder da Luz Divina.



Fonte: Livro/ “Cem Estórias da minha Fé”
(Fundação Mokiti Okada – M.O. A) 
1.Edição – Julho/ 1987 – São Paulo/SP. Vol. II
Pág.(195 a 201)
Autor: Revmo. Katsuiti Watanabe







Desenvolvendo o Espírito de Servir 



O fato que relato ocorreu quando Meishu-Sama ainda se encontrava entre nós. Havia um indivíduo que, sem sentir nenhum constrangimento, levara um maço de “Wari-bashi” (palitos japoneses descartáveis, utilizados para levar comida á boca) como oferenda, nas entrevistas com o Mestre. Vamos chamá-lo de Senhor A.

Em 1944, o Mestre se transferiu para o Solar da Montanha do Leste, em Atami, e em agosto do ano seguinte, 1945, a guerra terminou. Até pouco antes do fim do conflito mundial, as pessoas que participavam das entrevistas eram em número limitado, de acordo com as condições das mesmas; mas dali para frente, fora permitida a participação de quantos desejassem. Além dos diretores das igrejas e das pessoas responsáveis das mesmas, todos os membros, em geral, poderiam avistar-se e ouvir sua voz. 

Após o pedido de participação feito ao setor competente, aguardavam serem chamados para as entrevistas no Solar da Montanha do Leste. O Senhor A. era um membro que eu encaminhara e, junto com a esposa, fazia difusão fervorosamente. Obtendo permissão, ele pode participar das visitas a Meishu-Sama. Por ser época de crise e escassez de material, todas as pessoas lhe traziam presentes daquilo que era melhor, expressando assim, o sentimento de gratidão e retribuição de que estivessem imbuídas por terem sido salvas. Era de praxe um auxiliar fazer a leitura da lista das oferendas e dos ofertantes, tão logo o Mestre tomava assento. A cada item anunciado, ele meneava a cabeça e todos podiam observar a sua alegre fisionomia.

Numa dessas ocasiões, eu me assustei quando o auxiliar, ao ler a lista, anunciou: “Senhor A.: Um maço de Wari-bashi”. Não pude deixar de espreitar a fisionomia do Mestre. Porém, vi que ele continuava com a mesma feição. Não tendo coragem nem para encarar os que estavam junto de mim, abaixei a cabeça envergonhada. A época podia ser de crise, de escassez material, mas oferecer ao mestre um maço de palitos descartáveis era algo que não passaria pela cabeça de ninguém. Acredito que o Senhor A. sem nada perguntar-me, deve ter achado que isso estava bem, e fizera a oferenda sem nenhum acanhamento. Apesar de tudo, não lhe chamei a atenção. 

Na entrevista seguinte, o Senhor A. ofertou dois peixes salgados. Antes do nosso regresso, um dos servidores me chamou e disse: Sr. Watanabe, se não me engano, o Senhor A. tornou-se membro, orientado pelo senhor, não é? 

Sim, exatamente. Já entendi: antes, foi um maço de Wari-bashi; hoje, dois peixes salgados. Tenho vergonha de que as oferendas do Senhor A. tenham se limitado a isso. Não, não estou querendo dizer isso ou aquilo sobre elas. Só gostaria que ficasse ciente de que, quanto aos peixes de hoje, não pudemos oferecer ao Mestre, pois estavam cheios de bichinhos – segredou-me o dedicante. Sinto muitíssimo. Vou procurar orientá-lo direito. Só tive forças para pedir desculpas e, se houvesse algum buraco por ali, desejava estar lá dentro, de tão envergonhado fiquei. 

Não poderia de maneira alguma chamar o Senhor A. e repreendê-lo severamente, nem recriminar seu sentimento por oferecer aquilo que lhe era possível, como retribuição pela permissão da entrevista. Ele simplesmente não sabia como e com que sentimento fazê-lo; tampouco se esforçava nesse sentido... Criei uma oportunidade para lhe falar e mantivemos o seguinte diálogo: Na última entrevista, você ofereceu peixe seco, não foi? Sim. E, anteriormente, um maço de Wari-bashi, não é mesmo? Sim. Quero lhe transmitir que todos ficaram contentes, por serem de grande utilidade na cozinha. Também adoraram o peixe seco, dizendo estar ótimo. Recebi elogios por isso. O mestre é uma pessoa que se preocupa até com detalhes como esse.

Por isso, mesmo, se você puder encontrar algo melhor e mais bonito, acredito que ele vai gostar ainda mais. Eu também, certa ocasião muito me empenhei para oferecer truta que Meishu-Sama tanto aprecia. Desse modo, narrei-lhe, detalhadamente, como entreguei os peixes, em Hakone, durante a guerra. Contei-lhe também que o Mestre ensinou-me, pessoalmente, como deveria prepará-los para que se aproveitasse, ao máximo, seu frescor e delicado sabor. (Gostaria que lessem esta estória no primeiro volume). Continuei, orientando-o: Eu havia ofertado trutas do rio Nagara, mas os membros da beira- rio ouviu contar o ocorrido e, desejosos de que o Mestre saboreasse trutas de outros rios, entre eles o rio Kisso, passou a ofertá-los, expressando assim, todo o seu sentimento. Como muitas vezes se duplicavam as oferendas, criou-se até uma escala de datas, fora das entrevistas, para oferecer-lhe trutas, o que se tornou uma disputa acirrada.

Não estou lhe dizendo acrescentei que faça a mesma coisa, mas pode ser que uma oferta, embora aos seus olhos pareça espetacular, se nela não estiver presente todo o melhor sentimento de seu coração, não vai representar muito isto é não terá muito valor. Mesmo a comida ou as flores que oferecemos aos nossos Antepassados se não houver sentimento, do ponto de vista espiritual, o sabor ficará reduzido e as flores parecerão fenecidos. Assim, o que ofertamos ao Mestre, equivale á oferenda a deus e será saboreado e utilizado como tal. Este é o servir a Deus que nos permite serem instrumentos dele. Por isso, quanto mais sentimento pudermos demonstrar, mais valioso será. Se, por acaso, oferecermos sem qualquer sentimento, será até um desrespeito. Não estou dizendo que o peixe seco ou o Wari-bashi não fossem prova disso. Mas quero que faça presente todo o melhor de si, para que ele receba com alegria ainda maior.

Pareceu-me que o Senhor A. teve o seu íntimo tocado. A partir daí, ele passou a ter mais critério na escolha das oferendas, inclusive pedindo-me opiniões sobre este ou aquele material. Passou a pensar sinceramente em como expressar seu sentimento para que o Mestre pudesse se alegrar, realizando sua dedicação como se fosse para Deus. Assim, as atividades que o Senhor A. desenvolvia na difusão foram progredindo cada vez mais e ele também foi sendo envolvido por uma felicidade cada vez maior. Recordando um caso assim, constato ainda mais claramente a importância do servir. Mesmo que se diga que o que se está fazendo é para o bem do mundo e da humanidade, na situação atual, há muita facilidade para se incorrer apenas no formalismo, tendendo nossas ações a se tornarem desprovidas de sentimento.

Embora o assunto pareça divergir um pouco do que estou escrevendo, penso que aqui se enquadra: mesmo que seja reconhecida mundialmente a excelência do Japão, sempre nos fazem impiedosas críticas, sendo os japoneses chamados de animais econômicos. Porque será? Não será, por exemplo, porque no auxílio nos países em desenvolvimento, estejamos agindo com ausência de sentimentos sinceros? Se desejássemos, verdadeiramente, o progresso dos países subdesenvolvidos, e a isso nos dedicássemos, crê que nos tornaríamos alvo de respeito e consideração. 

O Ensinamento do Mestre sobre a construção do Paraíso Terrestre não se restringe apenas no Japão. A nossa fé deve ser aquela capaz de ir preparando a chegada da era onde todos estarão engajados na construção do Paraíso Terrestre. Para isso, devemos fazer aflorar todo nosso sentimento, para que ele esteja presente desde as pequeninas coisas até as grandes que ainda se acham em desenvolvimento.

Em palavras do uso cotidiano do grande Almirante Issoroku Yamamoto, que faleceu na linha de frente durante a guerra, temos uma frase famosa: “Diga e faça ouvir. Faça e deixe ver. Deixe fazer e elogie de vez em quando, se quiser mover os homens”. Essas são orientações pelas quais venho me pautando e as mantenho como meu lema. O Almirante formulou – as como militar, mas o seu significado se enquadra em qualquer situação, ensinando-nos que, para motivar as pessoas, não adianta só ordenar ou indicar. É importante fazer por si mesmo e mostrar, deixar os outros fazerem e ainda elogiá-los. Nessas etapas não pode haver nenhuma falha, pois, do contrário, não se conseguirão mover os homens satisfatoriamente. Essas palavras têm um grande valor para nós que nos dedicamos e servimos á Obra Divina e ao Caminho da Fé. 




Fonte: Livro/ “Cem Estória da minha Fé”
(Fundação Mokiti Okada – M.O. A) Vol. III
1. Edição – Novembro /1986 – São Paulo/SP.
Pág.(104 a 109)
Autor: Revmo. Katsuiti Watanabe








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