sábado, 5 de novembro de 2011

Feng - Shui e as Energias da Vida


FENG-SHUI E AS ENERGIAS DA VIDA


Muito tem se falado sobre a polaridade das energias no Feng-Shui e suas relações com a vida diária. Algumas vezes, vemos certas confusões que nascem de conceitos errados, introduzidos por meio de traduções equivocadas e idéias fora de contexto, que surgem em virtude da distância sócio-cultural e de interesses das forças intelectuais em ação.

Antes de qualquer coisa é importante situar de onde vem à maior parte da literatura sobre o assunto no ocidente. Durante o século XIX, iniciou-se uma verdadeira invasão de escritos e traduções de textos referentes ao Extremo Oriente, principalmente na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Nesse período, o homem ocidental acreditava ter acessado todo o conhecimento do mundo, e os países orientais eram vistos como um conjunto de povos atrasados e supersticiosos, cuja contribuição para o restante do mundo seria no máximo seus escritos capazes de ajudar a entender melhor a história dos povos bárbaros.

Com essa postura permeia-ás vezes até de forma inconsciente o trabalho de diversos autores, ocorreram várias distorções que tiraram o real significado das palavras colocadas delicadamente em manuscritos contendo, em muitos casos, mais de seis mil anos de sabedoria. Era um período em que predominava uma filosofia racionalista vendo o mundo claramente dividido entre certo e errado, bonito e feio, bom e ruim, positivo e negativo, e a única forma de concertá-lo era destruir o ruim e o negativo, fazendo predominar as coisas certas e positivas. Essa postura se refletiu nas transcrições para o ocidente da teoria do yin e yang, pois nada parecia mais justo do que consertar os textos dos tolos orientais. Com isso, uma das mais belas explicações sobre o funcionamento do cosmo e da vida foi colocada sob a perspectiva de um mundo desenhado em preto e branco. A natureza mutável das energias é ferida quando colocada dentro do conceito rígido de positivo e negativo e é claro que, no século XIX, as coisas iriam ainda mais longe, pois analisando as tabelas comparativas oriundas daquele período e aceitas como lei por várias “intelectuais” da Nova Era vemos coisas assim:
- Yang: positivo, homem, branco, ativo, estar acordado, luz, força.
-yin: negativo, mulher, preto, passivo, dormir, escuridão, fraqueza.

Partindo dessa idéia, devemos supor que negativo, é ser mulher, ter cor escura; e positivo é ficar acordado, ser homem, ter a cor branca. Muitas pessoas argumentam que essa distinção vem dos textos chineses e que os tradutores apenas colocaram no papel aquilo que leram. Para quem não conhece bem o idioma chinês, isso pode até parecer verdade, pois na maior parte das línguas encontramos similaridades entre as palavras e seus significados. Contudo, no chinês e, sobretudo no mandarim antigo isso fica muito longe da verdade. Primeiro, por que falamos em ideogramas, que nada mais são do que desenhos interpretados e que permitem uma centena de transcrições diferentes; em segundo lugar, os textos são feitos em forma de poesia, repletos de metáforas. Colocando isso de maneira clara, podemos dizer que em filosofia chinesa, dependendo do grau de instrução, a pessoa pode ler transcrever o que ela bem entender.
Tais textos foram apresentados dessa forma para ocultar a verdade daqueles que poderiam fazer mau uso dela. Só que, para os ocidentais, essas traduções se tornaram motivo de reverência e perpetuaram erros cometidos há dois séculos. Por isso, quando os chineses apresentam a idéia de yin e yang, na verdade não falam da teoria polarizadora desenvolvida no ocidente, mas de algo bem diferente e mais amplo.

O REAL SIGNIFICADO
Para avançarmos nesse entendimento é necessário partir na direção do significado de outros dois padrões energéticos chineses: a idéia de ch’i e sha. Essas duas formas de força representam diferentes estados e vibrações energéticas. Em uma definição simples e direta, ch’i é a energia da vida que nos alimenta, move e atua em nossos xacras e meridianos. Já o sha é a energia prejudicial á vida, que atua no sentido de gerar bloqueios ou energias que sugam as forças vitais, atuantes em um determinado meio ou ser. Desta maneira, o yin ou yang tanto podem ser ch’i como sha, dependendo de uma série de outros aspectos. Para a filosofia antiga não havia uma simples polaridade de opostos, porque na verdade existem quatro tipos de energia, e não apenas duas. Então, o que determina essas características? Vou usar um exemplo: Imagine um copo de água. Para saciar sua sede, você deve bebê-la. Aqui, a água possui uma característica yin, pois está parada, passiva. Mas essa característica yin, não é preponderante – a água possui em si o dinamismo das energias que a compõem, equilibrando o estado em que se encontra.

Isto é, ela tem energia yang em si, equilibrando seu estado yin, parada no copo. Por isso ela é ch’i e alimenta o corpo. Agora, numa situação extrema: deixe a água parada algumas semanas e ela se tornará yin demais, perdendo o equilíbrio e virando sha. Se tomar essa água ela prejudicará o corpo. Mas isso não significa que o yang é bom, pois no copo a água está em estado, yin, mas não em um extremo. O extremo é que a transforma em sha. E uma água com característica yang? Imagine a água de uma nascente, em movimento dinâmico. Ela seria ch’i, pois nutre e sacia a sede.

Agora imagine colocar essa água em uma mangueira de alta pressão: se tentar bebê-la, você poserá machucar a boca, a menos que coloque um anteparo (elemento yin) para reduzir a pressão. Assim mesmo, a energia sendo yang (dinâmica) se estiver em um extremo do dinamismo se tornará destrutiva, transformando-se em sha. Conclusão: O que determina se a água é ch’i ou sha é ela estar em equilíbrio ou num extremo.

PROSPERIDADE E FELICIDADE

Você deve estar se perguntando qual significado isso pode ter em sua vida. Bem, vamos falar de algo prático: o seu bolso. Como tudo na vida, a prosperidade é a mola propulsora que permite a realização das expectativas humanas na terra. A energia envolvida na prosperidade nos leva muitas vezes por caminhos tortuosos, quando na verdade tudo é muito simples. Imagine as pessoas como vasos cheios de prosperidade, todos interligados não havendo pessoas sozinhas, todas conectadas entre si. Essas pessoas se comunicam passando e recebendo energia da prosperidade umas para as outras.


Agora, imagine uma pessoa que resolva ficar com toda a sua prosperidade para si, sem compartilhá-la com ninguém. O que ocorre depois de alguns anos como toda energia que fica estática durante muito tempo é que essa prosperidade vira sha, isto é torna-se prejudicial á vida, matando a pessoa aos poucos. Esse processo também ocorre, mas de maneira inversa, com aquelas pessoas que dão tudo de si para os outros. Nesse caso, o sha se forma pelo extremo dinamismo da energia, que não alimenta o corpo e se esvai da pessoa, destruindo-a (quem não conheceu alguém que era muito bom e morreu na penúria ou doente?). Viemos-nos a esta vida para atingir nosso potencial máximo, viver plenamente e com prazer, não apenas para servir de escada para os outros. Mais uma vez, o equilíbrio se torna uma peça fundamental na administração das energias.

FORÇA CORROMPIDA

Além desses exemplos, existe outro que pode ser bem interessante: uma pessoa que possui dinheiro, mas não prosperidade. Como isso é possível? Na verdade, a prosperidade vem em maior ou menos grau dependendo de quanto nós trocamos com o mundo, de quanto colocamos em movimento aquilo que recebemos. Alguém que aproveita bem as chances que a vida lhe dá, acumulando o necessário para ir adiante com seus planos de crescimento e distribuindo o excedente para quem precisa, mas esquece outros aspectos de sua vida, como o amor próprio, a saúde, etc.. Colocando o enriquecimento em primeiro plano, sem dúvida obterá abundância material externa, mas acaba sofrendo do coração ou outras doenças. Em outras palavras, a pessoa possui dinheiro, mas não prosperidade; ela não tem amigos ou pessoas que a amém pelo que é mais pelo que tem.

Outras situações que nascem da energia danosa sha referem-se àqueles que dizem não ser amados por ninguém, que não conseguem achar um companheiro ideal. Na verdade, essas pessoas transformaram o próprio amor em sha por um egocentrismo exacerbado, alimentado por uma enorme carência afetiva. Isso faz com que elas represem a titulo de compensação, o amor dentro de si mesmo.

E ISSO É FENG-SHUI?

Sem dúvida, pois Feng-Shui é o estudo das forças que permeiam o ambiente e a vida das pessoas, permitindo compreender essas energias e colocá-las no curso adequado para o desenvolvimento e construção de uma vida plena. A real filosofia chinesa leva á aceitação da vida e á sabedoria de como as energias atuam nela. Esse é o elo perdido, a peça que falta nos cursos de feng-Shui: ir além da decoração de ambientes, além das cores e do Pa-kua(ou Ba-Guá), ver a vida como um todo e transportar essa compreensão para o dia-a-dia.

O que está escrito aqui você pode não encontrar em livro algum, pois essa é a pura tradição oral do Feng-Shui, a forma verdadeira de transmissão do antigo conhecimento, pois ele atinge a aura do ouvinte e não a sua mente, tornando-se parte de seu ser. Feng-Shui, na verdade é a ciência da harmonia entre o céu, o homem e a terra como prefaciavam o l Ching.

Qual a medida real daquilo que devemos devolver á vida para ter mais prosperidade?

1.Não se preocupar demais. A preocupação não leva a coisa alguma. Se resolvesse algo, bastava se preocupar e todos os problemas estariam resolvidos.

2.Rir bastante. A vida com humor é a coisa mais linda que existe! Nós podemos reconhecer um mestre de verdade por sua capacidade de rir de si mesmo. Se ele for carrancudo, pode ser tudo menos um mestre.

3.Ao agir como descrito acima você irá se abrir para a vida e a prosperidade, o primeiro passo para devolver ao mundo o que ele lhe deu. Ao levar felicidade e calma as pessoas, você as contagia. Tal atitude, por si só, liberta miasmas e o sha dos outros.

4.Quando tiver fome, coma. Quando tiver sono, durma. Esse é um ditado zen usado para exemplificar como o zen atua em nossas vidas. É uma forma de fluir naturalmente com as correntes vitais.

5.Se quer receber algo, veja como você atua na sua vida, dando aos outros o que gostaria de ter para si. Atenha-se ao essencial, mas não esqueça: dar demais também gera sha. Se quiser tudo na vida, não dê tudo que tem.

6.O dinheiro não é ruim. Ruim é o uso que podemos fazer dele.

7.Valorize-se. Se não fizer isso, quem você pensa que vai fazer?





Fonte: Revista/ Sexto Sentido
(A Revista do Novo Milênio) n. 23 – julho/2001
Mythos Editora (www.mythoseditora.com.br)
Págs.: (32 /35)

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