segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lótus a Flor Sagrada

Lótus a Flor Sagrada

Ela cobre as planícies alagadas do Oriente, do Egito à China. E é venerada em todo o mundo por milhões de pessoas, que a consideram o símbolo máximo da pureza espiritual.
A fumaça do incenso envolve como nuvens os monges budistas do templo Doi Suthep, construído no século XIV nos arredores da cidade de Chiang Mai, no norte da Tailândia. Ao amanhecer, como de costume, eles levam nas mãos os botões rosados da flor de lótus, espalhando um perfume suave no ar. Com voz grava murmuram um dos principais mantras, os cânticos sagrados do Budismo: "Om mani padme hum". Originária do antigo idioma sânscrito, a frase significa: "Ó jóia preciosa de lótus". Terminada a oração, eles depositam uma quantidade tão grande de lótus sob os pés de Buda que quase soterram a imagem sagrada. 
Milhões de pessoas de vários países asiáticos acreditam que o mantra do lótus tem a capacidade de transformar as pessoas em seres puros e iluminados, como o próprio Buda. As palavras sagradas desse canto estão gravadas em bandeiras coloridas ao vento, nos sinos que chamam para as cerimônias, em anéis e pulseiras, nos enormes moinhos de orações que são girados nos templos pelos toques das mãos dos fiéis. Tibet, Tailândia, Índia, Nepal, Butão, Indonésia, China... É difícil encontrar um país da Ásia onde o lótus não seja considerado sagrado. 
Na Índia, por exemplo, ele está relacionado à criação do mundo. De acordo com as escrituras indianas, foi do umbigo do deus Vishnu que teria nascido uma brilhante flor de lótus, e dela surgido outra divindade, Brahma, o criador do cosmo. Nas gravuras indianas, deuses costumam aparecer em pé ou sentados sobre a flor. São assim, por exemplo, as representações do deus-elefante Ganesha, de Lakshmi, a deusa da prosperidade, e de Shiva, o criador e destruidor. 
No interior das pirâmides e nos antigos palácios do Egito, o lótus também é representado como planta sagrada pertencente ao mundo dos deuses. Como na Índia, essa flor testemunha a criação do universo. Um dos mais interessantes relatos da mitologia egípcia sobre a origem de nosso planeta conta que, num tempo muito distante, um cálice de lótus com a s pétalas fechadas flutuava nas trevas. Entediada com o vazio, a flor pediu ao deus Sol Ra que criasse o universo. Agradecida pelo desejo realizado, a flor passou a abrigar o deus Sol em suas pétalas durante a noite, de onde ele saía ao amanhecer para iluminar sua criação.

Já os chineses tinham outra interpretação, que ia além da mitologia: eles associavam a flor ao órgão genital feminino. Na China antiga não havia elogio melhor para uma cortesã do que ser chamada de Lótus de Ouro, segundo informam os pesquisadores franceses Jean Chevalier e Alain Gheerbrant no livro Dicionário de Símbolos. Explica-se assim por que entre os chineses a planta é tão associada ao nascimento e à criação. 
Mesmo assim, o lótus não deixa de fazer parte das tradições religiosas daquele país. A deusa do amor e da compaixão Kuan Yin, a mais venerada entre as divindades femininas na China, é representada com flores de lótus ainda fechadas nas mãos e nos pés. Como o botão da flor tem o formato do coração, os fiéis acreditam que a planta teria o dom dos sentimentos amorosos. 
Os chineses acrescentam ainda outras qualidades preciosas ao lótus. Segundo eles, a haste dura simboliza a firmeza, a opulência de sementes estaria relacionada à fertilidade, as folhas - como nascem juntas - indicariam felicidade conjugal e a opulência da planta, prosperidade. O passado, presente e o futuro também seriam simbolizados, respectivamente, pela flor seca, pela aberta e pelas sementes que irão germinar. 

Nas pinturas dos artistas tibetanos, linhagens de budas e homens santos aparecem flutuando sobre flores de lótus - uma representação dos tronos da suprema espiritualidade. Nas escrituras budistas do Tibet, conta-se que o pequeno Buda já podia andar ao nascer e que, a cada passo, brotavam flores de lótus de suas pegadas - um sinal de sua origem divina. Hoje, muitos monges e fiéis dessa religião visualizam essa mesma cena enquanto caminham, imaginando que flores de lótus surgem debaixo de seus pés. Com essa prática meditativa, acreditam eles, estariam espalhando o amor e a compaixão de Buda simbolizados pela flor. 

Uma flor enigmática
 A flor de lótus (Nelimbonaceae nucifera) fascin não só os adeptos das religiões das religiões orientais. Faz muito tempo que especialistas em botânica tentam desvendar alguns mistérios dessa planta. Pesquisadores da Universidade da Adelaide, na Austrália, por exemplo, estudam uma estranha característica da flor: assim como os seres humanos, ela é capaz de manter sua temperatura em torno dos 35 graus. Esse sistema de auto-regulação de calo, compreensível em organismos complexos como o dos mamíferos, continua inexplicável para a ciência. Cientistas do Instituto Botânico da Universidade de Bonn, na Alemanha, estudam outra curiosidade do lótus: suas folhas são autolimpantes, isto é, repelem micro organismos e poeira. Entender esse mecanismo, dizem os alemães, poderia ser útil para aplicá-lo na limpeza de fachadas de edifícios.A vida no pântano: Cultivada em áreas alagadas, a flor de lótus brota com facilidade em praticamente toda a Ásia. Sua haste, muito comprida, pode alcançar mais de 1 metro acima do nível da água. Depois de colhida, a flor terá uso medicinal ou irá servir a ritos religiosos. Raízes no Ocidente: Originária da Índia, a flor de lótus chegou ao Ocidente no século IV antes de Cristo. Foram os gregos os primeiros a conhecer a planta, presenteados pelos egípcios. A flor espalhou-se pelo restante da Europa, onde foi apreciada por sua beleza particularmente pelos pintores. A história conta que certos povos da América Central já a conheciam. Sacerdotes do México, por exemplo, embriagavam-se como efeito alucinógeno produzido por um extrato da planta, pouco antes dos primeiros espanhóis pisarem na América. No Brasil, o lótus foi trazido pelos japoneses na década de 20 e é hoje muito cultivado na região de Bragança Paulista, interior de São Paulo, com finalidade medicinal. Segundo a medicina chinesa, a planta é consumida principalmente como chá por possuir qualidades terapêuticas que vão desde a cura de doenças renais e pulmonares até o combate do stress e da insônia. Apesar da aparência delicada, a flor de lótus não exige cuidados para crescer. Mas só é colhida no outono e no inverno, quando a temperatura é mais amena. 


(O texto é retirado da revista Terra, Fevereiro de 2000)
 Fonte: www.vivernatural.com.br

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