sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Loja Okada - Comércio por Atacado

A LOJA OKADA – COMÉRCIO POR ATACADO
                                                                    
A Loja de Miudezas Korin-do


Antes de falecer, Kissaburo deixou de herança, para o filho mais velho, a casa alugada, e para o mais novo, a quantia de 3.500ienes, como capital para ele fazer a sua vida. Essa quantia, vertida para os preços vigentes em 1980, equivale aproximadamente a Oito milhões e 500mil ienes. Graças ao amor e aos cuidados do Pai do Fundador não ficou em dificuldades no que se referia ao capital para abrir a Loja de Antiguidades. Entretanto, agora que Kissaburo já não existia administrá-la sozinho, com tão pouca experiência, parecia-lhe simplesmente uma aventura. Não tendo conseguido tornar-se pintor e vendo também fechado o caminho dos negócios, que deveria ele fazer? Com certeza, olhando para o céu, sentia vontade de gritar bem alto.

Assim, diante da contingência de escolher um caminho na vida pela terceira vez, o Fundador se viu completamente perdido. Um dia, um conhecido que freqüentava assiduamente a sua casa veio visitá-los e disse: “Na Rua Nishinaka, no bairro de Oke, está á venda uma Loja de Miudezas. Vocês não estão interessados? “Essa pessoa merecia confiança e o local era muito bom. A rua citada ficava paralela á Avenida Guinza, grande artéria que ia de Nihonbashi até Guinza e que, por sua vez, ficava paralela á Rua Higashinaka. Era uma zona comercial de grande movimento. As lojas de miudezas vendiam batom, pó de arroz, pentes, adornos para cabelos etc.. Indeciso, alegando que não entendia nada sobre o assunto, o Fundador recusou o oferecimento, mas sua mãe, que estava presente, incentivou-o: “Não se preocupe. Cuidarei do que você não souber. Não acha melhor começar por uma loja de miudezas do que por uma loja de antiguidades, que é muito mais difícil de administrar, especialmente agora que seu Pai faleceu?

Movido pela perspectiva de ajuda da mãe, o Fundador decidiu-se adquirindo os direitos sobre a loja. Pouco depois, mudou-se de Tsukiji para o bairro de Oke (também no Distrito de Kyo-bashi), onde ela estava situada. Isso se deu após a realização do Ofício Religioso de quarenta e nove dias do falecimento de Kissaburo, quando fazia pouco tempo que a vida da família Okada voltara á normalidade. O local corresponde, atualmente, á rua que corta Yaessou, quadra dois, no Distrito de Tyuo, e Kyo-bashi, quadra dois. Ficava num centro comercial muito próspero, cercado pela Rua Canal Sotobori, que passava em frente á Estação de Tóquio, e pela grande avenida onde estavam situadas a Loja Takashima-ya e a matriz da Loja Maruzen. Era um local de excelentes condições para o comércio.

Nessa época, o Canal Sotobori ainda não havia sido aterrado, e á sua margem passava o bonde municipal da linha Sotobori. No início do verão, ao sentir a brisa refrescante que soprava as superfícies da água para as janelas abertas de sua casa, certamente o Fundador punha-se a pensar nos tempos do Castelo de Edo. A loja era uma pequena casa alugada, com uma entrada que media aproximadamente 2,7 metros. Justamente por isso parecia mais acessível para as compras descontraídas das senhoras e moças das redondezas. O Fundador deu-lhe o nome de KORIN-DO, em homenagem ao pintor Korin Ogata, cujas obras ele admirava há muito tempo, considerando-as como manifestação da mais elevada arte.

Mesmo ao aprender “maki-e” e criar as suas próprias obras, o Fundador tinha por objetivo vivificar a arte de korin na atualidade. Assim, quando abriu a loja de miudezas, concretizando o desejo acalentado há tantos anos, colocou á venda suas obras de “maki-e” e deu ao estabelecimento um nome tirado do nome daquele pintor. O Fundador acordava bem cedo, fazia a limpeza da loja, saía para comprar mercadorias ,e depois que voltava, começava a atender os fregueses. Eram assim todos os dias. No início, como se tratava de um campo completamente desconhecido para ele, sentia-se inseguro e nem sequer sabia o nome e a finalidade dos produtos. Uma loja de miudezas vende as mais variadas mercadorias, desde produtos de beleza até bijuterias, e ele não conseguia decorá-las todas. Entretanto, com a ajuda de sua mãe, pouco a pouco foi se inteirando de tudo. Sempre cumprimentava amavelmente os fregueses, até mesmo aqueles que vinham comprar um simples vidro de óleo de cabelo ou uma fitinha.

Dizia-lhes: “Seja bem - vindo”, “muito obrigado”... A loja foi prosperando. Em pouco tempo o movimento era tão grande que faltava mão –de –obra. Então o Fundador empregou Ume, filha de Guentaro Takahashi, dono de uma barbearia da vizinhança que fora freqüentada por Kissaburo. Nessa época, um parente seu, pessoa de muita experiência, advertia-o constantemente. A propósito dessas advertências o Fundador escreveu: “Ele dizia: “Um indivíduo tão honesto como você nunca vai conseguir sucesso neste mundo. Os bem-sucedidos de agora pregam boas mentiras; portanto, é preciso que você proceda de acordo com o método triangular (método de procedimento no qual faltam o senso de justiça, o calor humano e a amizade).

Achei-o sensato e, depois que me tornei independente, esforcei-me bastante para mentir com habilidade. Mas nada ia bem; além disso, eu sempre sentia um aperto no coração. Como resultado, pensei: “Uma pessoa como eu não consegue nada com mentiras. Mesmo que eu não alcance o sucesso, vou voltar a agir com a honestidade de antes”. Assim decidi, assim fiz. E, inesperadamente, as coisas melhoraram. Eu me sentia bem, e as pessoas confiavam em mim. Fui prosperando rapidamente. Dez anos depois de ter começado como um pequeno comerciante sem nenhum capital pôde considerar-me um bem sucedido coisa muito rara na época. Meu “capital elevava-se, então, a mais de 100milhões de iens”. Entretanto, na época da korin-do, apesar do progresso da loja, o Fundador passou por mais uma decepção: teve de desistir da produção de “maki-e”, em conseqüência de um acidente.

Como já falamos o Fundador também vendia obras de “maki-e”; não só as que ele mesmo confeccionava, mas também as que ele desenhava e mandava um profissional confeccionar. Um dia, entretanto, cortou o nervo do dedo indicador da mão direita, que não conseguiu mais dobrar. Ora, no “maki-e”, o artesão polvilha a madeira batendo a ponta do tubinho de pó, bem de leve, com o indicador direito. Para essa técnica, que exige aguçada sensibilidade manual, o dedo em questão é o que controla a vida ou a morte. Assim, o Fundador não teve outro remédio senão desistir do “maki-e”. Na época, sendo muito jovem ainda e tendo tantos sonhos em relação a essa arte, ele devia sentir uma grande angústia e tristeza olhando para o seu dedo direito, que perdera o movimento.


CASAMENTO

A Korin-do foi uma atividade que o Fundador iniciou sem nenhuma experiência, não sabendo o que viria pela frente. Entretanto, com a ajuda de sua mãe, ele dedicou-se de corpo e alma aos negócios, tendo como lema a honestidade. Assim, a loja foi prosperando e, quando o Fundador se deu conta, ela havia se tornada pequena. Ainda não fazia nem seis meses que a instalara, e teve de alugar uma casa maior, situada na mesma rua, mas em outro bairro (Minami-maki). Nessa casa, as instalações da loja e os aposentos da família estavam separados, de modo que ele pôde se dedicar ao comércio com maior tranqüilidade.

No registro de mudança para o bairro de Minami-maki, n.17, constava, entre outros dados: “Responsável: O irmão mais novo de Takejiro Okada. Relatório de separação familiar recebido a 25 de novembro de 1905”. Quando os negócios começaram a correr bem e o Fundador adquiriu autoconfiança, julgando-se capaz de viver, independente, ele separou-se de seu irmão e assumiu a responsabilidade da família. É o que se sabe claramente por meio desse registro. 

A maior parte das mercadorias com as quais a loja negociava eram objetos de uso feminino. Ora, sendo o Fundador um rapaz solteiro e dedicando-se ao trabalho sob o lema da honestidade, não podia deixar de causar boa impressão aos fregueses. Havia pessoas que se mostravam preocupadas, dizendo-lhe que estava na hora de “arrumar-se”. Entre as propostas recebidas houve uma, feita por um grande industrial de granulados estabelecido em Assakussa nos seguintes termos: “Peço-lhe que se case com minha filha e seja o sucessor da família”. Essa proposta fora motivada pelas grandes orelhas do Fundador, pois se acreditava que as pessoas de orelhas grandes têm um destino afortunado. 

Entretanto, ele recusou-a, dizendo: “Eu não vou me casar para ser herdeiro de ninguém. Vou ser independente e formar a minha própria família”. O parente seu que estava servindo de intermediário ficou muito decepcionado com essa atitude. Pouco tempo depois, Guentaro Takahashi apresentou-lhe Taka Aihara, uma parenta sua, cuja família era da cidade de Yokohama, no Estado de Kanagawa. O Pai dela, Fussakiti, havia sido lutador de “sumo” (luta livre japonesa) quando jovem, mas na época era dono de uma loja de arroz. Tori, a mãe do Fundador, gostou muito da moça e o casamento ficou resolvido. Eles se casaram em junho de 1907, depois de ofício religioso de três anos de falecimento de Kissaburo, tendo por padrinho o Sr. Takahashi.

O Fundador contava vinte e quatro anos, e Taka, dezenove. Dos cinco ao seis anos, Taka estivera separada de seus pais, vivendo com outra família, e por isso era segura de si e não gostava de perder. Sendo a segunda filha dos proprietários de uma loja de arroz, aprendera não teoricamente, mas na prática, o serviço de uma casa comercial, não perdendo para nenhum homem no que concerne a transações, administrativas, etc. Depois que se casou com o Fundador ela também pôs em prática toda essa experiência. Tinha grande habilidade para qualquer tipo de serviço e era muito trabalhadeira, não podendo ficar parada, sem fazer nada. Executava o trabalho de várias pessoas, desde os serviços domésticos até os da loja. Conseguindo uma folga nesse ritmo atarefado de vida, aprenderá vivificação floral e cerimônia de chá.

Era muito boa para os funcionários, chegando ao ponto de lavar-lhes a roupa, mesmo depois que o número deles aumentou, em conseqüência do crescimento da loja. Eles, por sua vez, tinham tanta confiança em Taka, que achavam mais seguro entregar suas economias, para que ela as guardasse, do que deixá-la em seu próprio bolso. Sem se irritar, ela recolhia o dinheiro e colocava-o no cofre. Foi graças á valiosa ajuda de Taka que o Fundador, em apenas dez anos de comerciante, pode obter um sucesso tão grande como fabricante e atacadista de miudezas.


A AMPLIAÇÃO DOS NEGÓCIOS

Em fevereiro de 1907, aproximadamente um ano e meio depois que inaugurou a loja de miudezas Korin-do, o Fundador reformou sua casa, situada no bairro de Minami-maki, em Kyobashi, para usá-la como loja, e aí iniciou o comércio por atacado. Na época da Korin-do, ele negociava com cosméticos e adornos, mas desta vez abriu uma loja exclusivamente de adornos: “Loja Okada atacadista de adornos feitos com carapaças de tartaruga e metal”.

A Korin-do, que começara a funcionar sob a direção de um amador, foi prosperando, e certamente por isso o Fundador adquiriu certa confiança em si mesmo. Entretanto, não fazia nem dois anos que estava no ramo e, além do mais, agora já não se tratava de uma loja de miudezas a varejo, mas de uma loja atacadista. Para ele, que, devido á doença, era tímido e cauteloso, isso representava uma grande aventura, semelhante a uma aposta. Estava se lançando a uma disputa que certamente uma pessoa comum evitaria, por não ter muita segurança quanto ao sucesso. 

Relembrando as histórias que havia lido na Revista “Jitsugyo no Nipon” sobre o êxito de grande número de empresários o Fundador deve ter pensado: “Não vou ficar como um pequeno comerciante. Hei de vencer na vida”. Durante o tempo em que administrava a loja de miudezas, provavelmente ele traçara diversos planos e, se decidiu iniciar o comércio por atacado, o que á primeira vista parecia uma atitude impensada, foi porque viu perspectivas de sucesso. Sobre essas perspectivas, não nos resta nenhum escrito do Fundador, mas podemos pensar em pelo menos três. Uma delas é que, para tornar-se atacadista, ser-lhe-ia preciso, logicamente, ter um grande capital de giro. E ele tinha meios de conseguir esse dinheiro. Em segundo lugar, baseando-se principalmente nas orientações recebidas de seu Pai e no aguçado senso de beleza que adquirira, o Fundador estava certo de conhecer o que era mais adequado em matéria de adornos femininos. A terceira razão é que ele havia conseguido um colaborador excelente, chamado kinzo Kimura.

Kimura era natural de Shizuoka, tendo-se mudado, posteriormente, para Tóquio. Fora muito bem educado e vieram treinando no comércio desde menino. Na época, ainda não completara vinte anos; entretanto, já ocupava o cargo de subgerente da Loja Nishiura, atacadista de miudezas localizada em Nihon-bashi. Ia muito á Korin-do, para fazer entrega de mercadorias, e o Fundador sentia algo de extraordinário em sua personalidade e capacidade. Pouco tempo depois, a loja Nishiura faliu, e ele foi trabalhar na Loja Okada. Dado o cargo que ocupara, Kimura tinha farta experiência no comércio por atacado. Além do mais, a Loja Okada negociava com o mesmo tipo de mercadorias com que Le estava habituado a negociar, de modo que lhe era fácil fazer as vendas; acrescente-se a isso o fato de que era muito conhecido pelos demais compradores.

Levava, portanto, muitas vantagens. Não há duvidas de que, unindo a sua capacidade ás qualidades de Kimura, o Fundador pode confiar no sucesso do empreendimento. Ao iniciar o comércio por atacado, o Fundador fez um contrato oficial com Kimura, tendo o seu irmão Takejiro como testemunha. Esse contrato ainda hoje é guardado com muito carinho pelos familiares de Kimura, que o consideram como tesou da família. De acordo com ele, ficava determinado que além de três ienes fixos, o Fundador pagaria a Kimura dez por cento de comissão sobre as vendas do mês. Três anos depois, o contrato foi renovado, e o salário, á base de comissão sobre as vendas continuou. Assim, á medida que estas aumentavam o ordenado recebido por ele ia se tornando cada vez maior, até que sua renda se tornou equivalente á do Fundador. No auge da prosperidade da Loja por volta de 1917 ou 1918, o salário de Kimura chegava a 1000iens por mês. Na época, um casal que tivesse uma renda mensal de 50iens conseguiria manter um bom padrão de vida, daí poderemos ver como ele ganhava bem.

O Fundador não se preocupava com isso; pelo contrário, ficava alegre e sempre dispensava um ótimo tratamento a Kimura. Este por sua vez, correspondendo a tal sentimento, servia-o da melhor forma possível. Ao voltar para casa, costumava falar aos familiares sobre o dono da loja, e dizem que de suas palavras afluía o respeito que nutria por ele, pois, nessas horas, sempre endireitava sua postura e falava com muita seriedade. Tinha essa atitude não só porque recebia um tratamento especial, mas por que admirava o caráter humanitário do patrão, sobretudo a grandeza de sua personalidade calorosa e seu apurado senso de beleza. No início, o emblema da Loja Okada era um MO (primeira sílaba de Mokiti, prenome do Fundador) dentro de um círculo (maru) e por isso também chamavam o dono do estabelecimento de Sr. Marumo. Durante algum tempo ele ainda conservou a Loja Korin-do, que deixara por conta de sua mãe e de Ume Takahashi, mas depois que a casa atacadista começou a crescer, cedeu a Takahashi os direitos daquela, sem lhe cobrar nada, como agradecimento pelo trabalho que ela realizara até então.

Quando o Fundador abriu a Loja Okada (1907), fazia dois anos que terminara a guerra do Japão com a Rússia. Vencendo o grande Império Russo, que abrangia dois continentes a Europa e a Ásia a reputação inter nacional do Japão subiu de repente. O pequeno país asiático passou a ocupar uma posição equivalente á da Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Rússia e, seu poderio. Cresceu a ponto de ser considerado igual ao das grandes potências. Por outro lado, a grande guerra na qual foram mobilizados 1 milhão de soldados e gastos 1 bilhão e 700 milhões de ienes em dinheiro da época, pressionou muito a economia japonesa, que estava em vias de modernização. No campo, os agricultores sofreram um duro golpe, perdendo mão-de-obra, pois muitos homens foram enviados para a guerra. Ao contrário, portanto do que aconteceu no caso do conflito com a china, dez anos atrás a vitória na guerra contra a Rússia não trouxe como resultado o melhoramento da situação econômica. O país estava em crise, e a junção de empresas foi se tornando inevitável. Assim, os grandes grupos econômicos, como a Mitsubishi, a Mitsui e outros, iam consolidando a sua posição, enquanto a vida do povo em geral não era nada fácil. Apesar dessa situação a Loja Okada alcançou um progresso surpreendente, graças á extraordinária capacidade de administração do Fundador aliada ao senso de beleza que ele possuía.


CRIAÇÃO DE BIJUTERIAS 

Desde que machucou o dedo, o Fundador nunca mais fabricara nada, mas, utilizando sua experiência, dedicava-se á pesquisa do desenho de pentes e outros adornos para cabelos. Enviava esses desenhos a um profissional para ele fabricar os objetos, que depois de prontos, eram colocados á venda. Em abril de 1909, dois anos após ter começado o comércio por atacado, expôs um adorno para cabelo, representando a Loja Okada, numa exposição de artigos infantis promovida pela loja de roupas Mitsuokoshi com a finalidade de ampliar sua clientela entre o povo. 

Na Era Meiji, objetivando incentivar a indústria, foram realizadas diversas exposições centralizadas no governo e nos órgãos regionais. Com o passar dos anos, elas se transformaram numa espécie de comemoração. A exposição a que nos referimos acima foi promovida para fins comerciais; conseqüentemente, colocar objetos nela era, para o produtor, uma oportunidade de testar a sua capacidade. Ser premiado significava mostrar á sociedade o poder de suas mercadorias; uma oportunidade única, portanto. Tratando-se de uma exposição de artigos infantis, poder-se - ia pensar em brinquedos, mas nela se expunham roupas, adornos e outros artigos de utilidade para crianças. Quanto á qualidade, eles não diferiam nem pouco dos artigos para adultos.

Nessa exposição, onde foram expostos 1835 objetos, o Fundador e mais quarenta e nove pessoas receberam Prêmio de Bronze. Nove foram agraciados com Prêmio de Ouro, e trinta e Três, com Prêmio de Prata. Cinco anos depois, em 1914, o Fundador expôs outro adorno para cabelo na “Exposição Taisho”, realizada no Parque Ueno, tendo recebido novamente o Troféu de Bronze. Foram apresentados 106.293 objetos, tendo sido concedidos seis Troféus de Honra, 57 Troféus de Ouro, 189 Troféus de Prata e 515 Troféus de Bronze. A Exposição estendeu-se de março ao final de julho, num longo período de 132 dias, e registrou a visita de 74.603.405 pessoas. Embora ela estivesse dividida em departamentos, o recebimento de Prêmio de bronze, entre mais de cem mil objetos, prova a excelência da criatividade do Fundador, no campo da Arte.

Não se sabe como eram os objetos que valeram ao Fundador classificação nessas duas exposições, mas ainda restam alguns adornos de cabelo que se presume ser da mesma época. Os desenhos são muito variados, mas num deles foi utilizada a técnica denominada “Fukurin”, que consiste em enfeitar com metal a borda do objeto. No adorno em questão existe uma placa de metal esculpida com desenho de flores. É a técnica usada na tigela “Tenmoku”, cujas bordas são cobertas com ouro ou prata. Os pentes margeados de dourado, brilhando intensamente, deviam formar um contraste muito harmônico com os cabelos negros das mulheres. 

Durante os quinze anos que vão de 1909 a 1923, o Fundador criar inúmeros objetos de adorno; na maioria, objetos inéditos, com novos detalhes, em que ele utilizava a tradicional técnica do “maki-e” e a técnica denominada “raden” (consiste em cortar conchas finas e brilhantes em pedaços de diversos formatos e utilizá-los para enfeitar vasilhames de laca ou madeira crua). O sucesso das criações dessa época pode ser comprovado por três fatos: 1. Restam dezenas de objetos projetados pelo próprio Fundador. 2.Preservam-se os certificados da obtenção de Prêmio de Bronze nas duas exposições a que ele concorreu. 3. A patir de 1915 ele fez ao órgão responsável do governo a solicitação de “Patente de Invenção”, a propósito de um objeto, e de “Patente de novo modelo de produto”, a propósito de outro, tendo conseguindo reconhecimento oficial em ambos os casos.

Nos textos relacionados a esse assunto, especialmente os que estão arquivados pelo “Instituto de Patentes”, sediado em Torano-mon,Tóquio, constam detalhes como a data, o material e o processo de fabricação dos objetos, detalhes esses que, atualmente, constituem dados muito preciosos. O documento mais antigo de “Patente de novo modelo de produto” solicitada pelo Fundador é o “Shin M Shiki Kushi” (“Pente no Novo Estilo M”) registrado em 25 de janeiro de 1915. Segundo esse documento, o pente é feito da seguinte maneira: desenha-se uma flor de cerejeira ou crisântemo numa placa de metal, na qual se bate bem forte, deixando os traços do desenho. Procedendo-se assim, a flor fica em alto relevo. Depois, colocam-se areia e pó de ouro e prata na parte que ficou rebaixada, pinta-se e prega-se num pente de madeira ou carcaça de tartaruga. 

É uma simplificação da técnica do “maki-e” aplicada no motel. Nas obras dessa época, também foi usada a técnica chamada “heidatsu”, além das técnicas “raden”, que utiliza conchas, e “fukurin”. Na primeira, cola-se, em cima da laca, uma placa de ouro, prata ou outro metal. A Kikori Maki-e Suzuribako”(caixa feita em maki-e” com o desenho de um lenhador, próprio para guardar pincéis e a vasilha onde se prepara tinta carvão). Por exemplo, da autoria de Koetsu Hon’ami (Artesão de Quioto falecido em 1637, aos oitenta anos, segundo consta no livro de óbitos do Templo de Koetsu) e propriedade da Igreja Messiânica Mundial, é muito famosa como obra-prima do gênero. No desenho da bela e aberta curva da tampa da caixa, vemos ainda um aspecto magnífico: os traços característicos da arte japonesa empregados pelo estilo Rin-pa. Através desse fato podemos perceber que o Fundador aprendera e assimilara o estilo de Korin Ogata não de forma superficial,mas profunda. 

Na época, existiam em Tóquio tradicionais lojas de miudezas que vendiam por atacado, como as Lojas Nishizawa, Ogawa, Miyamoto, Haneshigue e outras. Eram casas famosas, que mereciam muita confiança, por existirem há várias gerações. Entre elas havia uma grande concorrência. Nesse meio, através de estudos e esforços, a Loja Okada foi se sobressaindo pouco a pouco, embora experimentasse as agruras que toda loja nova experimenta. Acabou ocupando o primeiro posto no mundo empresarial. O grande segredo desse sucesso, que se pode considerar excepcional, eram os objetos inéditos que ela vendia. O Fundador costumava dizer aos seus funcionários que a boa qualidade das mercadorias vendidas por uma loja era a chave para ela aumentar sua freguesia e ganhar-lhe a confiança. Não há dúvida de que essas palavras nasceram de sua autoconfiança e do fato de ter conseguido grande prosperidade em pouco tempo, através do seguido lançamento de novos produtos, todos eles de excelente qualidade.

O Fundador, que detestava imitar ou outros, sempre procurava novas mercadorias, jamais negligenciando as pesquisas nesse sentido. Talvez por esse motivo, dizia-se que a moda vinha da Loja Okada. Quando as outras lojas, imitando-a, começavam a vender mercadorias parecidas, nela já estava sendo lançado um novo produto. Assim, a Loja Okada estava sempre um passo á frente. Mas de onde o Fundador tirava as idéias para essas criações? É claro que ele procurava em jornais, revistas e livros, mas também utilizava como método prático de pesquisa, os cinemas, as barracas de “shows” e o “yosse”. Sotaro Watanabe, funcionário de Loja Okada, fala-nos sobre aquela época. 

“O patrão, que chamávamos de “Oyaji” (nome afetuoso para dizer “pai”) além de ir ao teatro, era um assíduo freqüentador de cinema. Sempre dizia ás pessoas que trabalhavam na loja”. Ontem fui ao cinema x. Está passando um filme muito bom, não deixe de ir!”“. Entretanto, nós achávamos que ele ia a esses lugares mais por interesse comerciais de que para se divertir: eram vinte por cento de interesse pelo cinema ou pelos espetáculos artísticos, e oitenta por cento de interesse pela pesquisa de modelos para adornos de cabelo, vestes etc. Ele ia muito, por exemplo, ao cine Konparu-Kan, situado em Shin-bashi, cinema muito freqüentado pelas gueixas.

Nessas oportunidades ao mesmo tempo em que assistia ao filme, ficavam observando s adornos de cabelos. Como “o seu olhar se fixava demoradamente no cabelo das mulheres, ás vezes a recepcionista ficava desconfiado.” Mas vejamos como eram os penteados femininos daquela época, os quais o Fundador pesquisava com tanto interesse. Depois que se iniciou a Era Meiji, acentuou-se cada vez mais a penetração da cultura ocidental no Japão. Em 1883, quando foi concluído o Rokumei-kan (Edifício construído em Tóquio para hospedar visitantes estrangeiros. Era também usado como local de reunião de pessoas da sociedade nacional e internacional) o interesse das pessoas pelo ocidente tornou-se ainda mais forte. Nesse quadro social, surgiu, em 1885, a “Associação Sokuhatsu de Senhoras” a qual pregava que o penteado usado até então pelas mulheres japonesas era prejudicial, em termos de higiene, além de não ser muito prático e nem econômico. 

Por esse motivo, ela se empenhava bastante na divulgação do “sokuhatsu”, um penteado novo, adequado ao clima de modernização que, nos meados da Era Meiji,começando pela classe elevada e pela classe média de yama-no-te, dominou toda a sociedade. Esse penteado combinava não só com as vestes japonesas, mas também com as ocidentais, e tenha diversas formas: para as jovens, para as mulheres de meia-idade, para as de classe elevada, para as zona industrial e comercial, para as mulheres do povo em geral e para as gueixas. Variava também de acordo com a época: na Era Meiji, levanta-se o cabelo bem alto e vistoso na parte da frente; já na Era Taisho o cabelo era mais baixo. Na segunda metade dês última foi introduzida no país, proveniente da França, a técnica do secador de cabelos, entrando em grande moda os cabelos ondulados.

Por outro lado, ainda era forte o apego aos tradicionais penteados japoneses. Na Era Meiji, entre as senhoras casadas do povo em geral e, logicamente, na zona industrial e comercial de Tóquio, chegou ao auge o penteado “ityogaeshi”, em que o cabelo é dividido para os dois lados, em forma de semicírculo. Dessa forma, em termos gerais, havia dois estilos de penteado na Era Meiji e na Era Taisho: O penteado tipicamente japonês e o “sokuhatsu”, de influência ocidental. Ambos se subdividiam em vários tipos, de acordo com a idade, a profissão, a posição e o gosto das senhoras. Cada um recebia um nome diferente. Os mais belos eram chamados de 203 koti, nome de um campo de batalha de guerra russo japonesa, onde o Japão teve um magnífico desempenho. Observando esses tipos de penteados, O Fundador pesquisava o adorno que combinasse com cada um.

O senso de beleza que ele possuía foi empregado não apenas no desenho das mercadorias como também na decoração interna da loja. Por ocasião da abertura da Loja Okada, seu irmão Takejiro abriu uma casa de miudezas em Guinze e, mais tarde, uma Loja de Bijuterias de metal; quem fez a decoração das três foi o Fundador. Seu senso criativo chegava a ser comentado até mesmo pelas pessoas que trabalhavam no ramo. Depois da mudança das vitrines, por exemplo, feita uma vez por mês, as pessoas da vizinhança e aquelas que se dedicavam ao mesmo tipo de negócios diziam: “Parece que as vitrines do Sr. Okada foram mudadas” ia, então, apreciar as novidades. (continuação no Livro Luz do Oriente/ volume:I )




Fonte: Livro Luz do Oriente – volume: I
Tradução Fundação Mokiti Okada – M.O. A
(Biografia de Mokiti Okada) – 3. Edição – São Paulo/SP. Abril/ 1999
Igreja Messiânica Mundial do Brasil (IMMB)
Pág. (140 a 159)


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