quarta-feira, 4 de julho de 2012

Contos e Lendas do Japão



Contos e Lendas do Japão




"A origem da estrela-do-mar - Lenda da Província de Okinawa"

Uma antiga lenda da província de Okinawa conta que, certa vez, o Deus estrela polar e a Deusa cruzeira do sul resolveram trazer vida para a terra. Então, quando a Deusa cruzeira do sul estava pronta para dar à luz, ela perguntou ao Deus Poderoso do céu onde poderia ter seus bebês.

O Deus poderoso do céu olhou para a terra e avistou uma pequena ilha chamada Taketomi-jima, onde existia, ao sul, um belo mar de coral. Então, ele disse à deusa Cruzeira do Sul: – Vá ao lado sul de Taketomi-jima, pois lá existe uma praia com águas mornas e ondas mansas, isso será muito bom para seus bebês.

Assim, a Deusa cruzeira do sul desceu da alta planície celeste e dirigiu-se à ilha, conforme sugerira o deus poderoso do céu. Lá chegando, deu à luz a várias estrelinhas cintilantes. A Deusa estava muito feliz, pois realmente aquela praia tinha a água morna e uma temperatura perfeita para que suas filhas pudessem passar os primeiros anos de suas vidas.

– Assim que crescerem, elas subirão a alta planície celeste para se encontrar comigo e viveremos cintilantes no céu. Disse a Deusa retornando ao seu lugar.

Entretanto, o deus sete dragões do mar ficou irritado, porque a Deusa cruzeira do sul não lhe pediu permissão e usou a praia para parir seus filhos. Ele então chamou uma das suas serviçais, a dona serpente gigante, e ordenou:

– Não admito que ninguém dê à luz em meu oceano sem minha permissão. Vá e devore todos os bebês que encontrar na região sul da ilha. A dona Serpente Gigante, obediente à ordem de seu amo, engoliu todos os bebês da Deusa cruzeiro do sul com sua enorme bocarra, matando-os todos. Em seguida, cuspiu seus corpos. As estrelinhas mortas flutuaram no mar até alcançarem uma praia chamada Higashi Misaki, no lado leste da ilha Taketomi. As estrelinhas, empurradas pelas ondas, pararam na praia e ficaram com o corpo salpicado de areia. Nessa localidade, havia um santuário onde vivia a semideusa Amável. Quando encontrou as estrelinhas sem vida, Amável sentiu muita pena delas e levou-as para o santuário.

- Oh! Pobres estrelinhas vão colocá-las no incensório. Assim, quando os aldeões vierem me trazer oferendas durante o festival e queimarem os incensos, suas almas poderão subir ao céu junto à fumaça. Lá, na Alta Planície Celeste, poderão reencontrar sua mãe. Conforme a semideusa amável planejou, quando chegou o dia do festival, os aldeões queimaram muitos incensos e as almas dos bebês-estrelas subiram ao céu levadas pelas fumaças.

Esta é a origem lendária da estrela-do-mar. Em Taketomi-jima, apesar de séculos terem se passado, ainda hoje é possível encontrar estrelas-do-mar com corpos salpicados de areia nas belas praias que ficam ao sul da ilha de Okinawa. Elas são conhecidas como Hoshi-suna (estrelas de areias), nome que nasceu em referência a esta lenda.

Fonte: http://nipocultura.blogspot.com/ 





"O Goblin de Adachigahara"

Muito, muito tempo atrás, havia uma grande planície chamada de Adachigahara, localizada na província de Mutsu no Japão. Dizem que este lugar era assombrado por um goblin canibal que tomou a forma de uma anciã. De tempos em tempos, muitos viajantes desapareciam e nunca mais se ouvia falar, e as mulheres idosas contavam estórias ao redor da fogueira à noite, e as moças que lavavam o arroz recém-colhido nos poços de manhã, sussurravam estórias horríveis de como pessoas desaparecidas tinham sido atraídas para a cabana do goblin e devorados, porque ele vivia apenas de carne humana. Ninguém se atrevia a passar perto do local assombrado depois do pôr-do-sol, e todos aqueles que podiam, o evitavam também de dia, e todos os viajantes eram avisados do terrível lugar.

Um dia, o sol estava se pondo, e um monge atravessava a planície. Ele era um viajante tardio, e seu manto mostrava que ele era um peregrino budista viajando a pé de santuário a santuário para rezar por uma bênção ou para alcançar o perdão dos pecados. Ele tinha aparentemente perdido o seu caminho, e como já era tarde ele não encontrou ninguém que pudesse lhe mostrar a estrada ou avisá-lo do local assombrado. Ele tinha andado o dia inteiro e agora estava cansado e com fome, e as noites eram frias, pois era o final do Outono, e ele começou a ficar muito ansioso para encontrar alguma casa onde ele pudesse conseguir passar a noite. Ele se encontrou perdido no meio da vasta planície, e olhou em volta, em vão por algum sinal de habitação humana.

Finalmente, depois de perambular por algumas horas, ele viu um grupo de árvores à distância, e através das árvores, avistou o brilho de um único raio de luz. Ele exclamou com alegria: “Oh, certamente que é uma casa de campo onde eu poderei conseguir hospedagem por uma noite! 

Mantendo a luz diante de seus olhos, ele arrastou os seus pés cansados e doloridos tão rapidamente como podia para cehgar ao local, e logo chegou a uma casinha miserável. Quando chegou perto, viu que estava em uma condição muito ruim, a cerca de bambu estava quebrado e as ervas daninhas e a grama invadia tudo através das aberturas. As divisórias de papel, que servem como janelas e portas no Japão, estavam cheias de buracos, e os postes da casa estavam dobrados com a idade e parecia pouco capaz de sustentar o telhado. A cabana estava aberta, e se via uma velha ancião fiando à luz uma lanterna velha.

O peregrino a chamou do outro lado da cerca de bambu e disse:

“Baa San (anciã), boa noite! Eu sou um viajante! Por favor, me perdoe, mas eu perdi o meu caminho e não sei o que fazer, pois não tenho aonde descansar à noite. Peço-lhe para ser bom o suficiente para me deixar passar a noite sob seu teto. “

A velha, logo que ela ouviu, parou de fiar, levantou-se da cadeira e aproximou-se do intruso.

“Eu estou muito triste por você. Você deve realmente estar aflito por ter perdido o seu caminho em um lugar tão solitário tão tarde da noite. Infelizmente eu não posso abrigar você, porque eu não tenho cama para lhe oferecer, e nem qualquer tipo de acomodação para um convidado neste lugar pobre!”

“Oh, isso não importa”, disse o monge;. “Tudo que quero é um abrigo sob algum teto para a noite, e se você for generosa o suficiente apenas para me deixar deitar no chão da cozinha serei grato, estou cansado demais para andar à noite, então eu espero que você não recuse, caso contrário vai ter que dormir na planície gelada.

“E deste modo ele pressionou a velha mulher a deixá-lo ficar. Ela parecia muito relutante, mas finalmente ela disse:

“Muito bem, eu vou deixar você ficar aqui. Ofereço-lhe só umas boas-vindas muito pobres, mas entre agora e vou fazer uma fogueira, pois a noite é fria.”

O peregrino estava muito feliz de fazer o que lhe foi dito. Ele tirou as sandálias e entrou na cabana. A velha, em seguida, trouxe alguns pedaços de madeira e acendeu o fogo, e ordenou que seu convidado se aproximasse para se aquecer.

“Você deve estar com fome depois de sua longa caminhada”, disse a velha. “Eu irei e cozinhar uma ceia para você.” Ela então foi para a cozinha para cozinhar arroz. Depois que o monge tinha acabado o jantar, a velha sentou-se junto da lareira, e eles conversaram por um longo tempo. O peregrino pensou que tinha tido muita sorte para encontrar tal anciã tão bondosa e hospitaleira. Logo a madeira acabou, e com isso o fogo morreu lentamente e ele começou a tremer de frio tal como tinha feito quando ele chegou. “Vejo que você está com frio”, disse a velha, “vou sair e juntar lenha, pois nós usamos tudo. Você deve ficar e cuidar da casa enquanto estou fora.”

“Não, não”, disse o peregrino, “deixe-me ir em seu lugar, pois você está velha, e eu não consigo pensar em deixá-la sair para catar madeira para mim nesta noite! A velha abanou a cabeça e disse: “Você deve ficar aqui tranqüilo aqui, pois você é meu convidado.” Então, ela o deixou e saiu.Em um minuto ela voltou e disse:“Você deve sentar-se onde você está e não se mover, e aconteça o que acontecer não se aproxime ou olhe para o interior da sala. Agora, preste atenção ao que eu digo!”

Se “você me disser para não chegar perto do quarto dos fundos, claro que eu não vou”, disse o monge, perplexo. A velha, em seguida, saiu novamente, e o monge foi deixado sozinho. O fogo havia acabado, e a única luz na cabana era de uma pequena lanterna. Pela primeira vez naquela noite, ele começou a sentir que estava em um lugar estranho, e as palavras da velha: “O quer que faça, não abelhuda o

no quarto dos fundos”, despertou sua curiosidade e medo.

Que coisa poderia estar escondida nesse quarto que ela não queria que ele visse? Por algum tempo, a lembrança de sua promessa para a velha o conteve, mas no final ele já não podia resistir à sua curiosidade de espreitar o lugar proibido. Ele se levantou e começou a se mover lentamente em direção ao quarto dos fundos. Então o pensamento que a velha ficaria muito irritada com ele se ele desobedecesse à fez voltar ao seu lugar junto à lareira.

Conforme os minutos foram passando devagar e a velha não voltasse, ele começou a sentir cada vez mais assustado, e a se perguntar qual o terrível segredo estava no quarto dos fundos. Ele deveria descobrir. “Ela não vai saber que eu olhei a menos que eu diga a ela. Vou apenas dar uma olhadela antes que ela volte”, pensou com ele mesmo. Com essas palavras, ele se levantou sobre os pés (pois ele estava sentado o tempo todo na moda japonesa, com os pés debaixo dele) e furtivamente se arrastou para o local proibido. Com tremor nas mãos, ele empurrou para trás a porta de correr e olhou para dentro e o que ele viu fez o sangue gelar nas veias. O quarto estava cheio de ossos de mortos e paredes e o chão estavam salpicados e cobertos de sangue humano.

Em um canto crânio após crânio subiam até o teto, em outro estava um amontoado de ossos de braços, no outro um monte de ossos da perna. O cheiro nauseante o fez desmaiar. Ele caiu para trás com horror, e por algum tempo ficou imóvel assustado no chão, uma visão triste. Tremia todo e seus dentes batiam, e ele mal pode se arrastar para longe do terrível lugar.

“Como é horrível!” ele gritou. “A que terrível lugar eu cheguei às minhas viagens? Possa Buda me ajudar ou eu estarei perdido. É possível que essa boa e velha mulher é realmente um goblin canibal? Quando ela voltar, ela irá mostrar sua verdadeira aparência e comer-me de uma so vez! “Com estas palavras, a força dele voltou para ele e, agarrando o chapéu e bagagem, ele correu para fora de casa tão rápido quanto suas pernas podiam levá-lo. Pela noite afora ele corria, seu único pensamento era chegar o mais longe que podia da presença do goblin. Ele não tinha ido muito longe quando ouviu passos atrás dele e uma voz gritando: “Pare! Pare!”

Ele correu redobrando a velocidade, fingindo não ouvir. Enquanto corria, ouviu passos atrás dele vindo cada vez mais perto e perto, e e finalmente, ele reconheceu a voz da anciã, que ficava cada vez mais alto, à medida que ela se aproximava. “Pare! Pare você homem ímpio, por que você olhou para o quarto proibido?”

O padre esqueceu completamente como ele estava cansado e seus pés sobrevoaram o solo mais rápido do que nunca. O medo lhe deu força, pois sabia que, se o goblin o pegasse logo seria uma de suas vítimas. Com todo o seu coração, ele repetiu a oração a Buda:

“Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu”.

E logo ele deixou a terrível bruxa para trás, os cabelos voando ao vento, e seu rosto mudando com raiva para o demônio que ela era.

Na mão levava uma grande faca manchada de sangue, e ela ainda gritou atrás dele: “Pare! Pare!”

Enfim, quando o padre sentia que podia não correr mais, o amanhecer surgiu, e com ela a escuridão da noite e o goblin desapareceram e ele estava seguro. O monge já sabia que ele tinha encontrado o Goblin de Adachigahara, a história de quem tinha ouvido muitas vezes, mas nunca acreditou ser verdade.

Ele achava que ele devia sua fuga maravilhosa à proteção de Buda a quem ele orou pedindo ajuda, então ele tirou o rosário e curvando sua cabeça enquanto o sol nascia ele disse as suas orações e fez o seu agradecimento com sinceridade. Ele, então, peregrinou para outra parte do país, apenas muito feliz de deixar a planície assombrada por trás dele.

Fonte : fonte: OZAKI, Yei Theodora. Japanese Fairy Tales, 1908.

http://www.archive.org/stream/japanesefairytal04018gut/jpnft10.txt

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