terça-feira, 16 de outubro de 2012

Como transformar nossas vidas em algo Belo e Sublime


Como transformar nossas vidas em algo Belo e Sublime

Buscando a Nobreza do Homem de Fé

A Obra Hokoji, de Kamo no Chomei (1155-1216), poeta e ensaísta que viveu do final do Período Heian ao início do Período Kamakura, trata da efemeridade do tempo do seguinte modo: “O rio que flui nunca para, e a água nunca permanece a mesma. A espuma que se forma nos poços do rio se dispersa e volta a surgir, nunca durando muito.” Esta obra registra também o grande incêndio que devastou Kyoto no final do Período Heian, em 1177, o grande furacão de 1180, a fome e a epidemia que ceifaram a vida de mais de 40 mil pessoas em 1181 e o grande terremoto de 1185. 

 Neste registro, são descritas imagens terríveis. O terremoto, que é, segundo Kamo no Chomei, “o evento mais terrível que pode sobrevir à humanidade”, fez com que montanhas deslizassem aterrando rios, que o mar se inclinasse invadindo o continente, que a terra se abrisse cuspindo água; precipícios desmoronaram e soterraram vales, navios vagaram perdidos levados pelas ondas e cavalos mal conseguiram manter-se de pé. Todas as construções da região de Kyoto foram destruídas – a poeira decorrente do desmoronamento subia tão alto no céu como a fumaça de um incêndio, e o estrondo da destruição assemelhava-se ao som de trovões. Esta é a forma como Kamo no Chomei descreve, de uma maneira vívida, o terremoto que assolou o Japão em sua época. 

E continua:

“Contudo, todos voltam às suas conversas rotineiras, parecendo que o peso que existia em suas consciências se esvanecera. E, com o passar dos dias, mais ninguém tocará no assunto”, lamenta-se Kamo no Chomei. Um ano se passou desde o grande terremoto, seguido de tsunami, que atingiu o nordeste do Japão. Com certeza, tudo ocorreu pela ação da grande harmonia da natureza. Acredito, porém, que devemos gravar em nossos corações e jamais esquecer o que aprendemos com esta tragédia: amar o próximo e quão maravilhoso é amar-nos e ajudar-nos. Além disso, cheguei à conclusão de que para que este mundo tão conturbado possa se aproximar, a cada dia, do mundo ideal, onde reina a harmonia, cada um de nós deve querer transformar-se em um “pioneiro da salvação”, tendo a permissão de encaminhar o maior número possível de pessoas à felicidade, construindo um futuro de luz, com o sentimento renovado.

Tudo se inicia em nós

Para que o mundo ideal se concretize, há um processo a ser seguido. Meishu-Sama, em seu ensinamento “Características da Salvação pela Igreja Messiânica Mundial”, nos explica claramente tal processo: “Para que o homem seja conduzido ao Céu, é necessário que ele próprio se eleve, tornando-se um ente celestial, a fi m de que, por sua vez, possa salvar o seu semelhante. Escrevi este capítulo com o objetivo de ajudar os leitores a compreenderem que o homem nada empreende que ele apenas age sob a Orientação Divina. Pelos fatos relatados, fica bem claro que Deus pretende formar o protótipo do Paraíso como início do advento do Paraíso Terrestre. 

Mas isso não é o bastante. Compete a cada homem tornar-se um ente celestial, e é chegado esse momento. Naturalmente, seu lar será paradisíaco e todos os componentes da família virão a ter uma vida celestial. Somente “assim poderão ser salvas as pessoas que sofrem no ‘inferno’.” E afirma ainda: “Para concretizarmos o paraíso, devemos começar primeiro conosco. Devemos tornar-nos paradisíacos. Contudo, não conseguimos transformar o nosso entorno, o nosso lar em paraíso de uma hora para a outra. Sendo assim, devemos primeiro mudar nosso sentimento. Fazer com que nosso sentimento seja paradisíaco.” (25 de fevereiro de 1952). Ou seja, é muito importante, primeiramente, que cada um de nós, que tem o Ohikari, torne seu coração um Paraíso transbordante de Luz e viva de maneira paradisíaca, permitindo que qualquer pessoa reconheça como somos felizes.  Caso contrário, ninguém acreditará que o caminho que trilhamos leva à felicidade.

Manter-se Belo é também uma Prática de amor Altruísta

Certa vez, o ministro responsável pela difusão na Itália contou um fato ocorrido em uma de suas visitas a uma pessoa que não era membro da Igreja. Esta lhe perguntou: “Qual o objetivo de vocês?”, ao que ele respondeu: “Nosso objetivo é a concretização do mundo ideal, um mundo de Verdade, Bem e Belo.” E a conversa continuou, tendo o Belo como tema principal. A certa altura, a pessoa disse: “Sem dúvida, este é um ideal bastante nobre. Porém, olhando o seu terno, sou levado a acreditar que seu senso estético não é muito aguçado. Por favor, volte quando você se tornar mais refinado.” Ele conta ainda que outras pessoas lhe dissessem: “Você não tem vergonha de andar nesse carro caindo aos pedaços?”; “Você não viaja durante as férias de Natal? Você não sabe aproveitar a vida!” Os italianos são particularmente exigentes tanto em relação à moda quanto à maneira de viver. Isso não me surpreende, mas esse episódio em particular me fez sentir profundamente quão necessário é ter um senso aguçado do Belo, seja em que domínio for, e possuir a capacidade de expressá-lo. Meishu-Sama afirma que “os antigos religiosos ostentavam com o mínimo necessário à sua subsistência. Eles se entregavam a penitências e procuravam salvar o próximo colocando-se numa situação miserável” (Características da Salvação pela Igreja Messiânica Mundial), admoestando-nos para o fato de que esta maneira de agir pertencia à Era da Noite. Ele orientava seus ministros sobre a importância do modo de vestir-se e de causar uma boa impressão às pessoas para que, ao olhar para eles, aquelas pudessem pensar: “Ah! Esta pessoa poderá me salvar.” 

Mesmo quando os tempos eram economicamente difíceis, ele se empenhava para que seus trajes, palavras, atos, rotina e entorno fossem sempre belos. E isso não dizia respeito somente ao seu bem-estar, mas também ao da família e ao de todos aqueles que estavam ao seu redor. Não é preciso usar roupas ou objetos de luxo, mas o desejo de manter-se belo, tanto quanto possível, é uma manifestação de cortesia e respeito para com o outro. Antes de qualquer coisa, não se deve causar mal-estar ao próximo, o que acredito ser uma prática de amor altruísta. O Belo possui um poder que supera nossa imaginação. Temos exemplos, como o de uma senhora que, devido a uma severa purificação após o parto, não estava conseguindo levar uma vida normal e decidiu ouvir o conselho de uma amiga, passando a se maquiar e a cuidar melhor da sua aparência e da casa. 

Com isso, ela ganhou ânimo e restabeleceu se completamente. Há ainda a história de um antigo ministro que orientava o seguinte a seus membros: “Nos dias de culto mensal, procurem arrumar-se, nem que seja só um pouquinho.” Eu acho essa orientação muito boa. O culto não pode virar um dia de competição para ver quem está mais bem arrumado, uma ostentação do luxo. Porém, se buscarmos vestirmos melhor, sempre de acordo com o local ao qual nos dirigimos, neste caso, à igreja no dia do culto, e dentro de nossas condições, brotará em nossos corações o sentimento de que “é o dia do encontro com Meishu-Sama”. Além disso, conseguiremos nos deleitar, daremos ao próximo a oportunidade de também fazê-lo e acredito que o ambiente fi cará mais alegre e agradável. Se compararmos os ocidentais com os japoneses, chegaremos à conclusão de que os ocidentais têm mais oportunidades de se arrumar, já que cada tipo de festa ou demais ocasiões pedem um traje diferente. 

Por outro lado, seria bom que os japoneses também começassem a criar e a desfrutar de tais ocasiões, refirado gostaria de ouvir ninguém dizendo: “Já não tenho mais idade para isso!” O ser humano é um mistério: só de vestir determinada roupa ou, no caso das mulheres, de fazer uma maquiagem, mesmo que seja só passar batom, o ânimo já muda. E, com esta transformação, as células se ativam, a cor e o brilho da pele melhoram e a expressão ganha vida. A beleza interior também deve ser polida Sabemos que Meishu-Sama dizia o seguinte a seus familiares: “Devemos nos arrumar não só para nós mesmos, mas também pensando no próximo.”

Todos admiram e se sentem atraídos pela beleza. É algo do quais todos querem se aproximar. A beleza é vista como uma espécie de símbolo da felicidade. Meishu-Sama nos ensina: “O Mal abomina a flor grande influência positiva no Mundo Espiritual.” (30 de maio de 1949). Porém, acredito que o Mal não abomina somente a beleza da fl or. Não estou seguro quanto à fonte, mas já ouvi dizer que a probabilidade de acidentes com carros que estão sempre bem limpos, polidos e encerados é mais baixa. A limpeza indica zelo. Ora, um dono zeloso, geralmente, cuida não somente da parte externa, mas da mecânica também, reduzindo a ocorrência de problemas. Além disso, ele dirige com mais cuidado, o que, em minha opinião, faz com que a probabilidade de ele se envolver em um acidente seja, naturalmente, menor.
O mesmo pode ser observado nos seres humanos: não basta preocupar-se somente com a beleza externa. Se não buscarmos a beleza interior, o Mal não permitirá que passemos incólumes por ele. Lembro-me que, tempos atrás, pedi aos professores de ikebana para que fossem como “ikebanas ambulantes” (no sentido de  serem “pessoas de sentimento belo”). Entretanto, creio que poderia dizer ainda mais: que fossem “obras de arte ambulantes”. Mesmo entre as obras de arte, há as de maior e as de menor qualidade – nós devemos nos tornar, na medida do possível, obras de arte de altíssimo nível. 

Meishu-Sama afirma: “O mais importante em uma obra de arte é a sua nobreza. O mesmo acontece com as pessoas. Muitas vezes, ouvimos dizer que uma pessoa é importante, poderosa, isso e aquilo, mas o que conta, de verdade, é sua nobreza. e arte nobre é 
Uma obra paradisíaca. Somos atraídos por ela ao observá-la. Assim, somos espiritualmente “elevados ao paraíso.” (1º de dezembro de 1951). Meishu-Sama nos ensina que esse elevado grau de nobreza influência não somente a beleza do ser humano, mas também se transforma em uma força que purifica o espírito de quem aprecia o belo de alto nível.

O que é Nobreza?

Há cerca de seis anos, depois que o livro “A nobreza de uma nação” (no original, “Kokka no Hinkaku”, de Tadayuki Fujihara, editora hinshio) se tornou um best-seller, o mundo literário japonês viveu uma febre de lançamentos editoriais que traziam a palavra hinkaku – que equivale a nobreza –  em seus títulos. Por exemplo: “A nobreza feminina” (Jôsei no hinkaku, de Mariko Bantou, editora PHP) e “A nobreza masculina” (Dansei no hinkaku, de Yoshinori Kawakita, editora PHP). O primeiro livro se refere à valorização das tradições e do senso estético em nosso país. Os livros que abordam a nobreza feminina e a masculina apontam vários aspectos importantes para o refinamento dessas características. Por exemplo: saber escrever uma nota de agradecimento, respeitar os compromissos, fazer o bem sem ostentar, saber preparar um prato especial, não buscar a própria felicidade, ajudar aqueles que estão próximos a serem mais felizes etc. Enfim, estes livros sugerem caminhos, pensamentos, atitudes e hábitos por meio dos quais, sem dúvida, é possível cultivar a nobreza.

Em japonês, a palavra “nobreza” (hinkaku) utilizada aqui significa tanto o “o valor de algo, sua qualidade, grau de pureza e refi namento” como também “elegância, graça, altivez, dignidade”. Para que nos tornemos seres paradisíacos, como deseja Meishu Sama, precisamos ter a nobreza e a elevação próprias de uma pessoa de fé. A nobreza do homem de fé nasce em meio à prática como seria um nobre homem de fé? To mando por base alguns poemas de Meishu-Sama e de Nidai-Sama, vejam algumas de suas características:

 Tem consciência da existência de Deus e da missão do ser humano:
Desde o início da Criação, Deus traçou Seu plano para o estabelecimento do Reino dos Céus na Terra.
Deus atribuiu ao ser humano, o mais nobre de todos os seres, a missão de construir o Reino dos Céus na Terra.
 Tem gratidão pelas bênçãos divinas, pelos antepassados e pelas pessoas que vivem a seu redor:
Sem a existência de meu pai e de minha mãe, não existiriam, neste mundo, meu corpo e minha alma.
 Reconhece o valor de sua vida e de seu corpo físico:
O homem vem a este mundo com um corpo físico recebido de seus pais e uma alma provinda de Deus.
 Ama e valoriza todas as pessoas:
Aquele que considera o homem um ser realmente elevado e nobre, é um Homem entre os homens.
 Preza as boas maneiras e a moderação:
Saibam os fiéis que a essência da fé consiste em manter a civilidade.
 Demonstra seus belos sentimentos por meio de palavras e atos:
Os homens de pensamentos, palavras e ações puras e belas, estes, sim, são entes do Reino dos Céus.
 Tem bom senso e utiliza a sabedoria para fazer o próximo feliz:
Na Era de Miroku, sobressairão neste mundo às pessoas transbordantes de inteligência verdadeira e da luz do amor.
 É sincero e abomina a mentira:
Sinceridade é um tesouro inestimável que se acumula no coração das pessoas que não são falsas, que não mentem.
 É sensato e consegue distinguir o Bem do Mal:
A educação que forma homens incapazes de distinguir o Bem e o Mal está baseada na pseudo- verdade.
 Não recrimina nem julga os erros dos outros:
Quem vive censurando os erros alheios serão censurados por Deus.
 Tem consciência da importância da virtude oculta e a pratica constantemente:
O homem que procura mostrar a todos os seus próprios méritos revela mesquinhez de espírito.
 É amável e sorridente:
Torne-se uma pessoa capaz de suportar todos os reveses da vida, aceitando-os com um sorriso.
 Deleita-se com a beleza da Natureza e da Arte:

Quem se deleita profundamente com a Arte, está apto a viver no Paraíso.
Nas coletâneas “Alicerce do Paraíso” e “Fonte da Sabedoria” existe muito outros ensinamentos que promovem nosso aperfeiçoamento. Que tal buscá-los e discuti-los com outras pessoas? Além de ser prazeroso, isto pode trazer um aprendizado valioso.

Acredito que, por insegurança, haverá quem diga que jamais conseguirá tornar-se uma pessoa nobre, elegante, graciosa e altiva. Porém, lembremos: recebemos de Meishu-Sama o Johrei e os ensinamentos. Ele afirma: “Se praticarem uma coisa do que eu digo ficarei mais contente do que se passassem os dias venerando e orando fervorosamente.” “Mesmo que não se torne notável, poderoso, tente tornar-se uma pessoa que consegue realizar consistentemente aquilo que digo. Se conseguir proceder exatamente como recomenda, será um herói.” 

Sendo assim, creio que, se praticarmos pelo menos um dos ensinamentos de Meishu-Sama, conseguiremos alcançar, sem dúvida, a almejada nobreza. É impossível ser feliz sozinho Uma pessoa que ama e respeita o próximo, que dá importância ao seu sentimento, que ouve sinceramente o que ele tem a dizer, que estende a mão e ajuda quando é necessário. Uma pessoa que consegue aprender humildemente com tudo e com todos, que se empenha na própria elevação, uma pessoa espirituosa e de conversa agradável. Uma pessoa sorridente, que consegue entender as entrelinhas e sentir a atmosfera de onde está, que é flexível  e consegue adaptar-se às mais variadas situações – uma pessoa assim consegue obter a confiança e a colaboração de todos e apresenta bons resultados tanto na vida pessoal quanto no trabalho.
Palavras, atitudes, expressão e postura da pessoa que sabe quão bom é viver em meio à natureza, que busca estar em contato com as variadas expressões da Arte – música, literatura etc. –, que sabe o que move o coração das pessoas, o que é belo, esta, sim, transmite nobreza e emoção. Se chegarmos a este ponto, conseguiremos serem, com certeza, “obras de arte ambulantes”.

O quanto felizes será se conseguirmos nos tornar assim! Receberemos a confiança e o amor dos demais e nada será mais prazeroso que estar vivo. Ninguém abandonará uma pessoa radiante como você. Desta forma, teremos mais amigos e mais oportunidades de guiar outras pessoas à felicidade. E isso fará com que a sua felicidade também aumente, já que esta não pode ser conquistada na solidão. Pensem: quando há alguém sofrendo em nosso lar ou no trabalho, nós ficamos tristes e o ambiente fi ca pesado. Acredito que o mundo foi feito de maneira que não podemos ser felizes sozinhos.

Para Finalizar

Desde o final do ano passado, venho incentivando a busca no sentido de os senhores se tornarem “pioneiros da salvação”. Gostaria, portanto, que combinassem isso com o empenho para alcançar “a nobreza de uma pessoa de fé”, por meio da busca da própria elevação, tema tratado aqui. Seja quando for, seja onde for – não podemos perder nenhuma oportunidade. Naturalmente, a ministração do Johrei também é essencial. Contudo, se vemos no ministrante um modelo de felicidade, o Johrei não se limitará ao momento da ministração em si. Mesmo que pensemos que nossa personalidade não é suficientemente elevados para encaminhar o próximo ou que não nos consideremos paradisíacos, que consigamos, pelo menos, ligar a pessoa a alguém que tenha essa força, pois, afinal de contas, aquele que faz o papel de ponte também é um “pioneiro da salvação”.

Nossa missão é fazer o próximo feliz. Acredito que a melhor maneira de cumprirmos nossa missão é vivendo e tornando real uma vida que nos leve à felicidade, transmitindo isso através de nossa postura para que, juntos, trilhemos o caminho da elevação. Para isso, devemos polir cada vez mais nossa felicidade e ganhar a permissão de nos elevarmos e de nos tornarmos pessoas que, quando nos olharem, pensem: “Ah, eu gostaria de ser como ele, de viver como ele...” Tenho certeza de que este empenho fará com que nossa espiritualidade se eleve e consiga transformar nossa vida em algo Belo e Sublime.





Encontros com o Revmo. Tetsuo Watanabe
(Presidente da Igreja Messiânica Mundial – IMM)
(Orientação Publicada na Revista IZUNOME /Japão)
N.92 – ano: 2012 

Fonte: Revista IZUNOME 
Edição N.57 – Setembro /2012
Igreja Messiânica Mundial do Brasil
Site: www.messianica.org.br

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