segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

MENSAGENS DE FILOSOFIA/LITERATURA

Eu tenho saudades de tudo que marcou a minha vida.


“Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou vir a ter, se Deus quiser. Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro. Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser. Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei de quem disse que viria e nem apareceu…”

Eu tenho saudades de tudo que marcou a minha vida…

Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades. Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei. Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou vir a ter, se Deus quiser. Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro. Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser. Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei, de quem disse que viria e De quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito; daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre; de coisas que eu tive e de outras que não tive mas quis muito ter; de coisas que nem sei que existiram mas que se soubesse, de certo gostaria de experimentar. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências. Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava totalmente, como só os cães são capazes de fazer, dos livros que li e que me fizeram viajar, dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, das coisas que vivi e das que deixei passarem, sem curtir na totalidade.

Quantas vezes têm vontade de encontrar não sei o que, não sei aonde, para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi… Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades em japonês, em russo, em italiano, em inglês, mas que minha saudade, por eu ter nascido brasileiro, só fala português embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que se costuma usar sempre a língua pátria, espontaneamente, quando estamos desesperados, para contar dinheiro, fazer amor e clarear sentimentos fortes, seja lá em que lugar do mundo esteja.

Eu acredito que um simples “I Miss You”, ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima, corretamente, a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades, porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis, de que amamos muito do que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência.

Sentir saudades, é sinal de que se está vivo e a vida, mesmo com tantas saudades, depois dos amigos, é o bem maior que possuímos.

Texto atribuído à Clarice Lispector, mas as fontes são imprecisas




A importância de ensinar a criança sobre a finitude da vida 

Uma das informações que adquirimos, já no início da nossa vida, é a de que o Universo é infinito, porém quase nunca alguém nos informa de que a vida é finita. A falta dessa informação deixa um vazio na mente da criança ou pelo menos uma distorção da realidade. No caso do vazio, ele é preenchido pela esperança de buscar a eternidade, supostamente existente no Universo. No caso de distorção da realidade, entram explicações as mais esdrúxulas que tomam o pensamento em substituição a informação escondida de nossa finitude.

Mais ainda, como conseqüência de um saber negado se cria um desequilíbrio emocional no indivíduo quando ele começa a ver as primeiras mortes de seus parentes, vizinhos e conhecidos, tão perto de si.

Então, a constatação da finitude que deveria ser natural produz um trauma existencial, representado pelo medo. Pior é que o medo não nos deixa ver sua origem real, passando a ser vivenciado como conseqüência da nossa falta de liberdade, produzindo uma verdadeira confusão entre o medo de morrer e o medo de perder o prazer do corpo. Mais ainda, como o nosso eu tem a função de gerenciar o prazer e o desprazer da sua própria libido, a ausência de informações ou informações mentirosas acarretam dificuldades no seu gerenciamento principalmente do prazer. O ser humano se constitui pelo saber do outro, mas essa constituição usa como tijolo do seu alicerce, as emoções que criança desenvolve a partir do contato físico como o outro, especialmente da mãe ou sua substituta.

Essas emoções desenvolvidas pelo corpo da criança obrigatoriamente energizarão palavras – significantes com seus respectivos significados – que as representarão no simbólico pelo resto de sua vida. Tal fato impõe aos pais e formadores de crianças e jovens a primazia da honestidade e da transparência de suas informações, sob pena de distorcer a realidade, na qual o futuro adulto tomará suas decisões de vida social e dotará em seu comportamento valores quase inquebrantáveis.

O desenvolvimento civilizatório da humanidade depende de que substituamos a esperança falida de infinitude das pessoas pela diminuição do espaço de tempo entre o consciente e o inconsciente, entre as emoções e o pensamento, entre o prazer e o desprazer, entre a vida e a morte, pois é neste espaço vazio que proliferam nossos devaneios, ilusões e uma exacerbada ficção que nos limitam a vivencia do corpo, energizado pela pulsão.

Se quisermos construir um mundo melhor, tratemos de preencher as lacunas do nosso saber, com pensamentos cada vez mais perto da realidade, sem distorções e principalmente sem mentiras.



Autografia Editora. Carlos é escritor, psicanalista, ambientalista e cooperativista. A sua produção literária sempre se pautou pela discussão em torno da liberdade. São de sua autoria os livros: O Caminho da Dignidade Humana; Desenvolvimento Sustentável; A Casa de Rendez-Vous; Plataforma; Era uma vez no Brasil e Pare de Se Culpar.

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