sábado, 10 de agosto de 2013

Lendas e Fábulas

No tempo em que os bichos falavam

Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que Esopo resolveu recolher e contar as histórias deles para todo mundo. 

Esopo era escravo de um rei da Grécia e divertia-se inventando uma moral para as histórias que ouvia dos animais. 

Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de entender a linguagem dos animais, mas Esopo era. Sobretudo dos pequeninos, que falavam muito baixinho, como por exemplo, os ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio. 

Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos que vinham de dentro do buraquinho. Os ratinhos estavam muito agitados e preocupados, pois o rei havia colocado um gato grande e forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de brincar em serviço, já tinha devorado vários ratos. 

Esopo apurou os ouvidos e pôde ouvir tudo o que os ratinhos diziam. Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma caixa de fósforos, discursava: 

- Meus amigos assim não são mais possíveis, não temos mais paz e tudo porque o rei resolveu trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai acabar com a nossa raça! 

Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em solucionar o problema que os afligia: um gato, grande e forte, que o rei havia mandado colocar na cozinha. 

Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o Provolone, o Roquefort, o Camembert e o pobre Tatá, o mais amado de todos. 

Planejaram, planejaram e não conseguiu chegar a nenhuma conclusão que agradasse a todos. Precisavam de estratégias eficazes e seguras. 

Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era impossível: "Como matar uma fera daquelas?" 

Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer entre os dentes do gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da caixa de fósforos quando Frederico, um ratinho muito tímido que nunca falava, resolveu dar sua opinião: 

- Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei rápido, mas antes vocês vão responder a uma pergunta: Por que esse gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e espertos? 

E Horácio respondeu: 

- Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho. Como é que vamos saber quando ele se aproxima? 

- Exatamente como eu pensei. Perdoem-me a modéstia, mas acho que a idéia que tive é a melhor de todas as que ouvi aqui. Vejam só, é simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até aquele que pegamos da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho e que faz um barulho enorme. 

Os ratos não estavam entendendo nada, para que serviria um guizo? 

Frederico tratou de explicar: 

- A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se aproximar, vamos ouvir o barulho e fugir. Não é simples? 

Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o gato se aproximar. 

Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia quando, de repente, um ratinho, que não parava de roer um apetitoso pedaço de queijo, resolveu perguntar: 

- Mas quem é que vai colocar o guizo no pescoço do gato? 

Todos saíram cabisbaixos. Como não haviam pensado naquilo antes? 

Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era a seguinte: "Não adianta ter boas idéias se não temos quem as coloque em prática". Ou ainda: "Inventar é uma coisa, colocar em prática é outra".


Autora: Ana Cristina de Sá

Site: revistaescola.abril.com.br 



Guilherme Tell 

Há muitos anos, antes de ser um país livre e soberano, a Suíça era governada por um regente autoritário chamado Gessler. Todo mundo tinha medo dele, porque quem desobedecesse às suas ordens era impiedosamente castigado. A única pessoa que não o temia era o bravo caçador das montanhas de nome Guilherme Tell, respeitado pelos seus conterrâneos por ser, além de homem de bem, um exímio arqueiro. Ninguém o superava na pontaria certeira com o arco e a flecha. 

O tirano Gessler, arrogante e vaidoso, gostava de aterrorizar a gente do povo. Por isso, mandou erguer na praça principal um poste no qual fez pendurar o seu chapéu. Diante desse ridículo símbolo de autoridade, todos os passantes deveriam se curvar. 

E todos obedeciam de medo de ser cruelmente punidos. Todos, menos Guilherme Tell, que não se submetia àquela humilhação por considerá-la abaixo de sua dignidade. Até que um dia aconteceu de o próprio Gessler estar na praça quando Tell passou por ali com seu filho de oito anos. 

Vendo que o caçador não se curvara diante do chapéu, Gessler ficou furioso e mandou que seus soldados o agarrassem, gritando: 

- Tell, tu me desafiaste, e quem me desafia morre. Mas tu podes escapar da morte se fizeres o que eu te ordeno. 

E o poderoso Gessler mandou que encostassem o filho do caçador ao poste com uma maçã sobre a cabeça. Então, continuou: 

- Agora, Tell, terá de provar a tua fama de grande arqueiro acertando a maçã na cabeça do teu filho com uma única flechada. Se acertares, o que duvido, sairá livre. Mas, se errares, será executado aqui, na frente de todo este povo. 

E Guilherme Tell foi colocado no ponto mais distante da praça, com o seu arco e uma flecha. 

- Cumpra-se a minha ordem! Bradou Gessler. 

- Atire meu pai, disse o menino. Eu não tenho medo. 

Com o coração apertado, Guilherme Tell levantou o arco, apontou a flecha, esticou a corda e, de dentes cerrados, mirou em direção ao alvo. Zummmm! A flecha zuniu no ar, rapidíssima, e rachou ao meio a maçã sobre a cabeça da criança. 

Um suspiro de alívio subiu da multidão, que assistia horrorizada àquele cruel espetáculo. 

Nesse momento, Gessler viu a ponta de outra flecha escondida debaixo do gibão do arqueiro. 

- Para que a segunda flecha se tinha direito a um só arremesso, urrou o tirano. 

Guilherme Tell respondeu, em alto e bom som: 

- A segunda flecha era para varar o teu coração, Gessler, se eu tivesse ferido o meu filho. 

E, pegando o menino pela mão, Guilherme Tell deu as costas ao tirano e foi embora. 

Anos mais tarde, o arqueiro foi um valoroso combatente pela independência da sua terra e pela liberdade de seu povo. 



Lenda Popular Suíça – Recontada por: Tatiana Belinky 
Site: revistaescola.abril.com.br 


Autora: Ana Cristina de Sá 




A Lenda do Preguiçoso 

Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se pudesse falar teria dito: 

“Choro não. Depois eu choro". 

Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele: "Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, manhoso". 

E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo de compadre dá sete anos de azar... 

E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de Josefina, sua rede de estimação. Quando passou diante da casa do fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de respeito, e perguntou: 

"Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!" 

"Deus não tem ainda, não, moço. Tá vivo." 

E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do chapéu e ainda da rede cochichou no ouvido do homem: 

"Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?" 

"Tá não." 

"Então toque o enterro, pessoal." 

E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular. 



Lenda recontada por: Giba Pedroza 

Site:revistaescola.abril.com.br


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