sábado, 6 de julho de 2013

CRÔNICAS

A Janela 

Admirando um quadro refleti sobre a semelhança entre ele e uma janela diante da qual tudo passa. Olhando através dela, você consegue observar atos e fatos da vida cotidiana: crianças brincando, belas moças desfilando, um casal se amando, o carro novo do vizinho, o horário em que o jovem retorna ao lar, a que horas o marido da vizinha do lado fronteiro volta para casa, quem veio visitar os amigos da casa à direita, se a da vizinha à esquerda está sendo assaltada, enfim toda uma gama de situações pode acontecer diante de nossos olhos através de uma janela.

Não esqueçamos que se “uma janela observa” os outros, também pode existir “aquela que nos observa” e se não quisermos ser assunto para comentários, fechemos a nossa. Muitas pessoas ficam “olhando” a vida dos outros e esquece-se de viver a própria, mas quando conseguem analisar o fato, percebem que perderam muito tempo e não chegou a lugar algum. Uma janela pode ser admirada ou odiada causando ferimentos, principalmente nos cotovelos.

Saibamos apreciar as belezas da vida sem criticar a alheia. E por falar nisso, você permanece à janela perdendo tempo ou aprendendo a viver? Reflita! 


Autores: Paulo Antonio Widmer Jr, Odinar Fratin Jr e Zuleika Soares Novaes Júlio
Alunos do Grupo “Os sonhadores” pertencente à SALA DE LITERATURA DO LAR DAS MOÇAS CEGAS- Santos/ SP.



Eu Quero um Shrek 

Depois que a princesa beijou o sapo e ele virou um príncipe, veio por terra a máxima de que a mulher foi a responsável pela queda do homem e, conseqüentemente, pela perda do paraíso, segundo as Sagradas Escrituras. Eva pode ter tido pouco juízo, mas através do conto de fadas, ficou comprovado que não é a mulher que torna o homem infeliz. Coisa nenhuma! Estou cansada de carregar esta culpa por toda a humanidade. Adão bem que sabia que o fruto era proibido, comeu porque quis! O toque feminino da princesa transformou o asqueroso batráquio em um galã de primeira grandeza! Por isso eu adoro aquele ditado: "Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher." 

A partir desse conto de fadas, os estúdios Disney reinventaram, recentemente, o enredo desta história, fazendo no desenho "A princesa e o sapo", a bela moça se metamorfosear em sapa (ou seria em perereca? - ah, essa nossa língua portuguesa e seus gêneros...). Perdeu a graça! E o poder feminino, para onde foi? Coisa chata essa Disney mania de tornar sonsas as mais belas princesas! Já viram a Cinderela? Mas onde já se viu uma criatura tão linda, herdeira oficial do rei, aceitar com total subserviência os desmandos daquela madrasta nojenta e suas filhas invejosas? Só mesmo Walt Disney, pois na versão original dos irmãos Grimm, a megera é obrigada a calçar sapatos de ferro em brasas, por ter sido tão má com a Gata Borralheira. Por isso, Wilhelm e Jacob fazem parte do meu universo literário. Eles pegavam o 'espírito da coisa', e isso no século 19! 

Mas a redenção do imaginário infantil veio com a Dream Works, que criou Shrek. O anti-herói mais cabra macho de todos os contos da carochinha! Aquilo sim é um homem de verdade. Ele atua em sua história, ele é o centro da trama... Shrek representa os homens da vida real, ao menos, alguns deles. Shrek sofre de eructações e flatulência, tem bafo de bode, a beleza de um orangotango e a sutileza de um rinoceronte. Apesar de todos esses adjetivos, no final ainda salva a princesa do dragão da maldade e casa com ela. Shrek desmoralizou os príncipes-plantas, aqueles figurantes que só aparecem no início e no final da história para selar o 'felizes para sempre' com um beijo de amor! 

Shrek não beija a Fio na, ele a carrega nas costas, demonstrando o contorno de seu corpitchio à La barriguinha de chope. E não dá a mínima para os chiliques da senhora! Fio na foi, nesta história, a princesa que virou sapa... Mas bem diferente daquela pequena rainha Disney liana. Fio na amou Shrek do jeitinho que ele era. E o príncipe? Ah, o príncipe... Bem, o engoma Dinho ganhou tons de arco-íris, além de se assumir metrossexual e com sérios desvios de conduta. Um psicopata moderno. Aliás, um Narciso redivivo. Ta Dinho ficou só, sem palácio, cavalo branco e nenhuma bela princesa. 

É por essas e outras que eu prefiro amar o meu Shrek: homem valente, ético, viril... Não é príncipe, mas também não é sapo. É o homem na medida exata. Com o tempo, a mulher vai descobrindo que todo príncipe é meio chato, meio assim... Narciso se olhando e se afogando no rio, que era o seu espelho! Homens que "se acham", mas não se garantem. E tenho dito! 


Autora: Christiane Bianchi 


Crônica da Cidade 

Escutem, Por favor! 

As imagens mostram um corre-corre na Esplanada. Quem eu mais amo está entre os manifestantes e eu me orgulho disso, embora meu peito esteja do tamanho de um botão. Problema meu, não dele. Mudei de lugar, e eu que me resolva.Participei de um sem número de manifestações, como estudante e como repórter, desde o fim da ditadura até a primeira eleição de Lula. Experiências que me deixavam o peito do tamanho do Sol — eu não era mais uma unidade, estava corporificada na multidão. Era a plenitude, o que me colocava numa situação de perigo — e só agora, que estou do outro lado, me dou conta disso. Saber-se poderoso é perigoso, mas é preciso aprender a lidar com o risco. A participação nos protestos deste junho de 2013 é uma aula obrigatória de cidadania. 

Entre as muitas lições que esses surpreendentes acontecimentos estão oferecendo ao país, e aos políticos em especial, uma delas é a de que é preciso saber ouvir (e em tempos de web, saber escutar o que dizem as redes sociais. Não à toa, a ABIN criou às pressas um núcleo para acompanhar os movimentos na internet). E o primeiro quesito para a audição é a humildade. Os donos da verdade costumam ser surdos. Sabem de tudo, têm explicação para tudo. Não sabem perder, recuar, reconhecer o erro, engolir a pedra. 

Quem me conhece de longo tempo deve estar rindo de mim. Eu já fui dona da verdade — e caí do cavalo uma, duas, tantas vezes quantas foram suficientes pra ser derrotada por mim mesma. Desfeitas as certezas, calçadas as sandálias da humildade, ficou tudo muito mais cansativo e fluido — tudo o que é sólido se desmancha no ar. Já deu pra aprender que ouvir é cansativo, que a possibilidade de rever certezas é ameaçadora para quem se sustenta em verdades. Os preceitos irrevogáveis se dissolveram — o que me deixa mais leve, mais livre, e não menos comprometida com os princípios que, para a minha consciência, são fundamentais. 

À noite ainda nem começou, o peito está do tamanho da cabeça de um alfinete — temo por todos os filhos, torço pelo meu país e espero que os que ainda estão no poder tenham a coragem de escutar o que esse milhão de brasileiros está dizendo às ruas. 

PS Tentou vandalizar o Itamaraty, um dos mais belos palácios do mundo, uma das mais refinadas obras de Niemeyer e Burle Marx. É uma jóia da arquitetura moderna, com seus arcos em concreto aparente, sua escadaria solta no ar, seu espelho d"água com um paisagismo brasileiro e cerra tense (os buritis do Palácio dos Arcos foram transplantados adultos para o lugar onde estão num tempo em que essa tecnologia era pura novidade). Entre as mais recorrentes reivindicações dos manifestantes, está a melhoria na educação. Por certo. 



Autora: Conceição Freitas 
Correio Brasiliense - 21/06/2013 
Enviado por: Luciana 






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