A Fé que desenvolve a Personalidade
Este é um caso até recente!
Firmei amizade com um capitalista de Kyoto, que possui três empresas de construção, e como qual podia conversar livremente. Vamos chamá-lo de Sr. M. Como o casal M. já era membro, fora dos assuntos da igreja, os nossos gostos também eram similares, de maneira que foi muito bem aceito por eles, chegando a ser convidado para a Sala de Chá. O Sr. M. tinha três filhos homens. O mais velho já havia se formado na faculdade e auxiliava o pai na empresa. Um dia, o Sr. M. consultou-me sobre um problema familiar.
Estou numa enrascada sobre o casamento do meu filho. Ele e contou que o filho estava namorando uma moça que anteriormente trabalhara na sua firma, e que os dois queriam casar-se a todo custo. A jovem era um ano mais velha que o rapaz e o fato de ser uma ex-funcionária não agradavam ao Sr. M. por ser uma ligação de afinidades desencontradas, os pais eram contra aquela união e até chegaram a pedir aos que os conheciam para opinarem contra, mas os próprios namorados não davam ouvidos. O que estaria acontecendo? Parecia que os pais nada podiam fazer, mas continuavam desejando que a noiva para o seu filho tivesse as qualificações que eles achavam indispensáveis.
De início, falei superficialmente ao Sr.M. e á sua esposa, que estava junto: Ora, se seu filho deseja tanto, porque não realizar a sua vontade? Bem, se isso fosse possível, não estaríamos sofrendo tanto me responderam. Não se podiam ignorar os sentimentos da mãe e do pai, que amavam o filho, mas o seu modo de pensar era um tanto antiquado. O nosso filho é muito bom e está sendo enganado pela moça. Como o Sr. M. chegou a dizer até aí, eu também retruquei: Vocês são de boa família e, tendo posses, é difícil evitar que surjam problemas e aflições desse tipo. O casamento é um assunto que compete a eles dois, e se impuserem sua vontade agora, futuramente o seu filho poderá perder a confiança em vocês.
Paixão é como encosto espiritual. Devemos resolvê-la com o auxílio de bastante tempo. Quando recebo consultas dessa natureza, procuro assegurar-me do sucesso, pesquisando e analisando por bastante tempo. O namoro é uma febre temporária, que torna os namorados cegos ás circunstâncias e quanto mais é alvo de oposição, mais esquenta e arde. Se olharmos com mais frieza e razão, pode ser que somente seu filho goste dela, e que por ser um ano mais velho, ele possa estar um tanto apressada para casar-se, pensando em ocupar o lugar de esposa em uma família tão renomada. Com um pouco de tempo e paciência, a realidade tornar-se-á clara e qualquer sentimento oculto ficará evidente.
Vocês têm o desejo de que ele continue os trabalhos da família. Por isso mesmo, precisamos saber se não há por parte da noiva sentimentos como os que expuseram. Devem estar aflitos porque pensam que a moça está longe de ser condizente com o herdeiro da família. Ora, Sr. M. o senhor ainda é jovem e tem o segundo e o terceiro filhos. Mas, por ter a saúde um pouco delicada, está se afobando nessa questão de herdeiro. Quando o homem cresce sem nenhum sofrimento especial, constantemente vacilará até os trinta anos, e sem se importar com as diversas condições e circunstâncias, seu pensamento está centralizado em si próprio.
Será que por ser o primogênito, ele não foi criado com muitas regalias? Se assim for, há uma parcela de responsabilidade por parte dos senhores. Se o seu filho insiste em si casar, contrariamente por que não experimenta separá-lo da família, fazendo-o constituir outra? Se vocês se apegam, de verdade, á Fé, poderão ficar tranqüilos, haja o que houver. Nesse momento, em vez de sofrerem por um problema, para o qual não vêem solução, creio que o melhor é dar-lhe uma casa, e deixá-lo constituir outro lar. O Sr. M. não modificou seu pensamento com essas minhas palavras. Ele próprio herdara a Família, na qualidade de primogênito, e a vinha encabeçando até o presente. Assim, desejava impor energicamente, o mesmo papel ao seu filho mais velho.
Tomei, o meu caso como exemplo: Não sei se feliz ou infelizmente, sou o terceiro filho, mas fui eu que cuidei do meu irmão mais velho e do segundo irmão. O patrimônio que herdei não era muito, mas, pelo menos, acabei conservando o nome da Família. Neste mundo moderno, não podemos nos prender somente aos costumes, porque isso se torna antinatural. Creio que ainda continua sendo a melhor coisa acreditar no seu filho e deixá-lo casar-se. Quanto á moça, o que o preocupa não é propriamente ela, mas a sua Família, sua condição social, não é? Parece-me que, atualmente, os dois não são membros, mas caso eles venham a adotar a Fé, o que o senhor fará? Na tentativa de solucionar o caso, experimentarei oferecer-lhes o caminho e verificarei o sentimento de ambos. Mandei os dois me procurarem.
O Sr. M. foi embora sem que parecesse mudar o seu modo de pensar. Como fiquei preocupado com isso ainda naquele mesmo dia, telefonei-lhe e deixei um recado, dizendo que gostaria de conversar com o rapaz por que assim poderia me inteirar melhor da situação. Alguns dias depois, o filho veio me procurar. Eu o chamarei de M. fui direto e claro com ele. Ouvi dizer que se casará por mais oposição que lhe façam. É verdade? Sim, exatamente. Seus familiares já estão certos de que você é que continuará a Família e por isso não gostaram que, sozinho, tivesse escolhido uma moça de condição diferente para ser sua esposa. Eu não penso como eles. É muito famoso o caso daquele homem que se casou com uma bailarina. Seus pais foram brilhantes. A mãe chegou a dizer que o importante é o caráter da pessoa, não sendo problema a sua posição social.
Tentei convencer seus pais a apoiarem o seu casamento, mas, no fundo o problema está sendo a personalidade da moça de quem você gosta. Deixe que eu converse com ela. Assim, poderei sentir a sua índole e, quem sabe, eu poderei ajudá-lo? M. permanecia me ouvindo calado. Sabe por que seus pais fazem oposição ao seu casamento? Pode ser que lhes tenham dito que vocês são de condições diferentes, mas o que existe por trás disso é um sentimento de insegurança que surge quando pensam no que acontecerá futuramente, caso vocês se casem. Portanto, se tiverem alguma coisa que prove que sempre se dedicarão a eles, o assunto poderá se encaminhar de outra maneira. É importante tornar claro, também até onde esse amor é autêntico, e se tem bases firmes em que se sustentar. Se você amá-la verdadeiramente, e se casar a despeito de toda e qualquer oposição devo admitir, entretanto, que ela acabará se tornando infeliz; se você se separar da família para se casar, dirão que foi por causa da mulher que você teve de fazer isso e ela se tornará a culpada. Somente com o seu amor não poderá manter o seu lar. Por isso, não se tornará verdadeiramente feliz.
No casamento arranjado, pessoas com experiência, pensam e analisam a vida dos futuros noivos, as personalidades e outros pontos, antes de apresentarem o casal. Por isso, depois de casados, não surgem muitos conflitos; a grande maioria constrói um lar harmonioso. A ausência de problemas neste tipo de matrimônio mostra a importância de se ponderar sobre as muitas condições que envolvem um casamento. Se essas forem boas, há toda á possibilidade de, com o convívio do casal, surgir o amor. Por isso, eleger o parceiro apenas porque está gostando dele, ou apaixonado por ele, significa estar escolhendo baseado numa circunstância efêmera. Prevalece, então, a propensão á parcialidade, a fazer análises precipitadas, terminando por uma união ditada pelo egoísmo, que sempre se torna um grande empecilho na vida conjugal.
Quando as verdadeiras personalidades se revelam, ambos os parceiros, centralizados em si mesmos, só procuram apontar os defeitos do outro, o que leva ao divórcio ou ao abandono do lar por parte de um deles. Principalmente no caso de namoro, mesmo que os dois digam que se amam, é freqüente esse amor se mostrar cego. Comparando ao esforço de fazer o outro feliz, o pensamento de tornar feliz a si próprio é muito maior. Se não existir o desejo sincero de dedicar-se ao seu parceiro, é evidente que, logo ambos se sentirão vazios quando a febre da paixão passar. Seus pais já passaram por longa experiência de vida, mas, mesmo assim, estão emparedados devidos á insegurança e buscam Salvação na Fé. Vocês dois ainda não estão tentando ver mais profundamente, nem pensando no verdadeiro rumo da vida.
Daí nasce à preocupação deles que os leva a se oporem ao seu desejo. Se casarem, terão filhos, surgindo, então outros problemas familiares. Se for um casamento egoísta, isso poderá repercutir nos empreendimentos comerciais e influenciar muito, o que os levará a perder a confiança de todos. O ser humano parece estar coibido pelas relações pais-filhos. Marido-mulher, e também com terceiros, mas na realidade, ele se desenvolve com isso. Amar, proteger-se, ser cordial e respeitoso é belezas de sentimento que constituem a verdadeira relação humana, nascendo daí o verdadeiro prazer de viver. Atualmente, estou pedindo a seus pais que aprofundem um passo a mais na Fé. No caso de seu casamento, tenho pedido que pensem muito bem no futuro do seu querido filho.
Por tudo isso, você não poderia pensar no que pode fazer para deixá-los mais tranqüilos? Creio que lhe está sendo necessário um estudo do mundo dos sentimentos, em vez de ficar impondo sua vontade aos que o rodeiam e que não querem concordar com ela. Que tal, se compreendeu o que eu disse deixar que eu cuidasse da sua namorada por uns tempos? Vendo-a misturar-se a um grande número de jovens que estão em aprimoramento, com o passar dos dias poderei conhecê-la melhor e ela também poderá aprender muita coisa. Torne-se você também um membro da igreja. Tenho certeza, que assim, seus pais concordarão com o seu casamento. M. assimilou bem o que lhe disse e foi embora, prometendo trazer-me a moça. Pensei que haveria possibilidade no namoro dos dois, casos eles se empenhassem no aprimoramento dos seus espíritos. Após, M. e a namorada tornaram-se membros e também os pais dela tiveram a permissão de serem conduzidos ao Caminho da Fé. Eles concordaram em deixar, a filha aos meus cuidados para um aprimoramento de três meses. Chegando o dia atrasado, ela veio acompanhada de M. Este tinha um metro e oitenta centímetros de altura e uns setenta quilos de peso e ela um metro e meio, além disso, muito magra.
Segundo a opinião dos pais de M. isso era um motivo contra o casamento. Ela calçava sapatos altos e usava uma maquilagem bem carregada. Mas, por estar lá, aparentava toda seriedade. Passaram-se, assim, cerca de dois meses de aprimoramento. Nisso o casal M. veio procurar-me por que continuava preocupado e também para ver como ia a moça. Indiquei a jovem para recebê-lo. Ela o cumprimentou, ofereceu chá e doces e, trocando duas ou três palavras, foi se embora. Vendo-a, o Senhor e a Senhor M, em uníssono, disseram: Não sabíamos que era tão boa pessoa. Está completamente diferente... Na verdade, ela se modificara muito. Transformara-se numa mulher que procura a realização interna, deixando de ser aquela que se preocupava só com a aparência. Também nos gestos e palavras, notava-se uma transformação positiva.
Se misturado ás sete ou oito jovens dedicantes, á medida que aprendia as lidas de casa e tarefas femininas, foi reconhecendo suas faltas e deficiências e o seu coração despertaram. Como passou a se preocupar com a beleza de sentimentos e não com a das formas externas, todas suas atitudes demonstravam mais calma e seriedade. O casal m. ficou admirado de ver como as pessoas melhoram em tão poucos dias. E já não faziam, em seu intimo, nenhuma oposição. Terminando o aprimoramento de três meses, M. e a moça puderam tornar-se noivos e, logo depois realizaram o casamento.
Compareci á cerimônia do enlace, como convidado. O padrinho era o gerente da filial de um banco e fora um dos que tinham opinado contra a união. No seu discurso, ele não se limitou a apresentar os noivos e ás formalidades, mas se estendeu longamente, discorrendo até mesmo sobre a gratidão que devemos ter aos nossos pais. Solicitado a falar, comentei sobre a fé e, em relação á noiva, deixei esclarecido que, ligada á igreja, ela não só se tornará uma boa esposa, mas estará sempre solidária com o esposo, na construção de uma nova vida, tornando-se uma integrante da família M. para ajudá-la a progredir, e também para cuidar dos sogros quando necessário. Acrescentei, também: Foram poucos os três meses, mas tendo a noiva sob meus cuidados durante esse tempo, pude sentir que está realmente confiante em si mesma, para assumir sua nova missão. Creio que ela formará um lar em que possa receber os aplausos de todos os senhores.
E, como era de se imaginar, em poucos meses, a poltrona de presidente, onde o Senhor M se sentava para trabalhar, estava sendo ocupado pelo seu filho M. O pai também se modificara bastante ao ver a transformação do filho e da nora. Já não tinha aquela incômoda sensação de insegurança ao pensar no futuro, quando teria que deixar a sua fortuna para o filho casado com uma moça que não o merecia. Recordando, vejo que esse resultado se deve ao fato de M. ter acatado obedientemente os meus conselhos, e da moça ter-se submetido ao seu noivo, mas ainda mais por terem os dois descobertos o mundo da fé e, através desta, se unirem fortemente.
Também o casal M. pode ampliar a visão sobre os valores humanos. Não se tem como avaliar a verdadeira personalidade de alguém quando nos preocupamos apenas com posição social, tradições familiares, patrimônio, etc. Família e Patrimônio constituem bens que só são conquistados com esforço e, portanto, não podemos ignorá-los; mas estão longe de serem tudo na vida de um ser humano. Dar valor ou não a esses bens, na verdade, é uma opção de cada homem.
Eu compreendi, ainda melhor, que devemos isto sim, preocupar-nos com a Elevação e Aprimoramento constantes do nosso Espírito.
Autor: katsuiti Watanabe
Fonte: Livro/ “Cem estórias da Minha Fé”
(Fundação Mokiti Okada – M.O. A) – Vol. III
1.Edição/ Novembro/ 1986 – São Paulo/SP.
Pág.(187 a 196)
Nenhum comentário:
Postar um comentário