PARTICIPANDO DA CONSTRUÇÃO DO SOLO SAGRADO
ENTREVISTA COM :
YOSHITARO KATSUMATA
Jardineiro – Chefe do Solo Sagrado de Hakone
ISSAO MORIMOTO
Jardineiro – Chefe do Solo Sagrado de Atami
Repórter: A construção dos Solos Sagrados de Hakone e Atami foi desenvolvida sob a orientação direta de Meishu-Sama e com a dedicação dos fiéis oriundos de todo o Japão. Naquela época, o País ainda não estava livre da situação confusa de pós-guerra, e faltavam inúmeros materiais e maquinários para a construção. Ouvi dizer que só foi possível contar com a força humana. Escavar montanhas, aterrar vales, amontoar pedras, transplantar árvores, só se conseguiu realizar essa grande obra, de acordo com a Providência Divina, graças á Fé absoluta que os fiéis depositaram em Meishu-Sama, cujo desejo era construir o protótipo do Paraíso Terrestre, e graças ao intenso espírito de dedicação, não é?
Vamos aprofundar o nosso conhecimento sobre os acontecimentos daquela época ouvindo os senhores Yoshitaro Katsumata, Jardineiro /Chefe do Shinsen-Kyô de Hakone, e Issao Morimoto, Jardineiro/Chefe do Zuiun-Kyô de Atami,os quais ao lado de Meishu-Sama, encabeçaram o grupo de dedicante durante a construção do Solo Sagrado.
Em primeiro lugar, indaguemos por menores sobre os cuidados que Meishu-Sama dispensava aos dedicantes e trabalhadores.
Katsumata: Parece-me que foi em 1948 ou 1949, ano em que se desencadeou o tufão Ion. Com esse acontecimento, a estrada de Miyaguino (Hakone) afundou dois metros, formando-se um rio enorme; dentre os nossos trabalhadores, houve dois ou três que tiveram suas casas arrastadas pela correnteza, e muitos outros sofreram grandes prejuízos, em virtude das inundações. Todos estavam em dificuldades, principalmente por que era uma época precária em alimentos.
“Isso é muito grave”, disse Meishu-Sama ao saber da situação. Embora ele não tivesse fartura de alimentos, repartiu seu arroz entre os flagelados. Além disso, recebemos bastante ajuda monetária e também outros auxílios que, nos emocionaram a ponto de nos fazer chorar.
Morimoto: Em Atami aconteceu a mesma coisa. Em virtude do racionamento do arroz, eu estava em dificuldades. Ciente disso, Meishu-Sama repartiu o seu comigo dizendo: ”Quando se trabalha para Deus sentindo fome, o serviço não sai bem feito. Por esse motivo, dê uma porção para cada um”. Houve uma época em que recebíamos arroz todos os dias. Uma vez, Meishu-Sama perguntou: “Vocês conseguiram fazer moti? (Bolo de formato redondo, feito de um arroz especial socado). É uma iguaria que se come por ocasião de certos festejos, especialmente no Ano Novo. “Como o arroz está racionado, só conseguimos fazer uma pequena quantidade”- respondemos. “Então vamos repartir o moti” – disse ele. Depois dessa conversa, muitas vezes recebemos do “moti” colocado entre as oferendas de Ano Novo. Eu também me lembro do que o Sr. Katsumata acabou de dizer. Realmente, naquelas ocasiões, a alegria era tão grande que eu não continha as lágrimas.
Katsumata: Não partiu de nós a ideia de pedir, nem tampouco me lembro de ter expressado um ar de tristeza. Apenas nos limitamos a responder á pergunta que Meishu-Sama nos fez. Como era uma época ruim, em que havia falta não só de alimentos mas de quase tudo, Meishu-Sama também estava em dificuldades. Mas, sem se importar muito com isso, preocupava-se conosco, em todos os sentidos, coisa que outras pessoas não conseguem fazer.
Morimoto: É verdade. Mudando de assunto. Foi na época da substituição do velho ien pelo novo. Quando comecei a servir na Igreja, ainda trabalhava por empreitada, em outros lugares. Ao término de um serviço que pegara, o patrão me disse que não era possível me pagar o valor do novo ien então lhe pediu que fizesse o pagamento com base no valor do antigo. Entretanto, com o que recebi não me foi possível pagar ao meu empregado, e tive prejuízo. Por causa desse acontecimento, quando me encontrei com Meishu-Sama, perguntei-lhe como seria o pagamento e ele me respondeu que eu não precisava me preocupar.
Repórter: Extraordinário! De imediato. Ele pressentiu as preocupações dos trabalhadores e, com essa resposta, tranqüilizou a todos. E o que me diz sobre as orientações a respeito do trabalho? Katsumata: No começo, o encarregado era o Senhor H, mas depois o encargo passou a ser meu. Recebia ordens e fazia o trabalho de acordo com a orientação recebida, sempre pedindo a vistoria de Meishu-Sama. Ás vezes surgia contradições entre o que Meishu-Sama dizia e as ordens dadas pelo senhor H. Então, Meishu-Sama chamava-lhe a atenção com todo o rigor, dizendo: “O senhor está valorizando muito seu sentimento. Que utilidade tem isso na construção do protótipo do Paraíso Terrestre?” Escutei essa repreensão três vezes, mais ou menos. Depois comecei a receber ordens diretamente de Meishu-Sama e não recebi muitas censuras. Acho que eu não era muito desobediente...
AS PALAVRAS DE MEISHU-SAMA SE CONCRETIZAVAM
Repórter: Obediência em primeiro lugar, não é mesmo, senhor katsumata? Durante a construção do Solo Sagrado de Hakone quais eram os períodos em que Meishu-Sama lhe dava orientações?
Katsumata: Só durante o verão, por ocasião da sua estadia em Hakone. De junho a setembro mais ou menos. Todos os anos, no dia 30 de setembro ou um. De outubro, ele ia para Atami, para só voltar no ano seguinte. Três a quatro dias antes indicava as tarefas que deveriam ser cumpridas. De acordo com as ordens recebidas, trabalhávamos até junho do ano seguinte.
Só houve uma vez em que eu ficasse em dúvida. Foi com relação ao tempo previsto para a construção do Lago; mas tudo ocorreu de acordo com o que Meishu-Sama havia dito.
Repórter: Que Lago?
Katsumata: O lago que existe ao lado do templo da Luz do Sol. Aí, cavando conforme a ordem de Meishu-Sama encontrou rochas. Ele olhou a composição do terreno e disse: ”Como é difícil cavá-lo, vai demorar um ano para o lago ficar pronto”. Limitou-se a dizer isso e partiu para Atami. Até então, ele sempre dava ordens a cada três dias, depois de vistoriar uma ou duas áreas. Em caso especial, chamava-me ao Solar da Contemplação da Montanha e dava as explicações adequadas. Só no caso do Lago, isso não aconteceu. Fiquei preocupado, pois Meishu-Sama indo para Atami, eu não o encontraria por um bom espaço de tempo. Não sendo muito grande o lago, calculei que não levaria muito tempo para ser concluído e pus-me a pensar no que faria quando ele estivesse terminado.
Porém, ao começar a cavar o solo, verifiquei que as rochas eram vulcânicas, duras de escavar, o que dificultava muito o trabalho. Portanto, conforme a previsão de Meishu-Sama, trabalhando com afinco, a conclusão do lago levou exatamente um ano. Começamos essa obra no fim de setembro, quando Meishu-Sama, foi para Atami, quando ele retornou a Hakone, em junho do outro ano ainda estávamos enfileirando as pedras. Imediatamente ele mandou que as colocássemos num nível bem mais elevado; além disso, deu-nos instruções pormenorizadas a respeito. O lago ficou pronto justamente quando ele ia regressar para Atami, nesse mesmo ano, o que quer dizer que a construção levou exatamente o tempo previsto.
Repórter: Em volta daquele lago, há pedras enormes. De onde as trouxeram?
Katsumata: Trouxemo-las do terreno que está situado abaixo dos Sepulcros Sagrados. Ali havia inúmeras pedras, e nós não sabíamos onde colocá-las. “Traga as edras de lá e utilize-as”, disse Meishu-Sama. E assim foi feito. Somente uma delas a maior e mais alta não veio de lá, mas do local á esquerda do “hall” de entrada do templo da Luz do Sol. Estava numa posição um pouco mais alta do que este, e, de lá dava para pular em cima do telhado do “hall”. Já tinhamos colocado a pedra mais ou menos no lugar predeterminado, quando Meishu-Sama nos instruiu para afastá-la um pouco mais. Como era muito pesada, se não escavássemos fundo não poderíamos movê-la, por isso deu bastante trabalho. Movíamo-la pouco a pouco.
Morimoto: Ouvi dizer que havia duas pedras enormes numa das obras do Solar da Montanha Divina.
Katsumata: Sim, as pedras do lago que ali existe. Essas também são grandes. Coloquei-as naquele lugar pensando em harmonizá-las com o lago. Meishu-Sama,olhando o nosso trabalho, instruía-nos sobre a altura em que elas deveriam ficar, ou se seria preciso colocá-las mais para dentro ou mais para fora, fazendo assim , as devidas correções.
Morimoto: Normalmente, os especialistas fazem um bom trabalho e a maioria das pessoas fica satisfeita.
Katsumata: Minha intenção, ao colocar aquelas pedras, era que elas sempre parecessem grandes, de qualquer lado que fossem vistas. Assim, não queria modificar sua posição. Entretanto as instruções de Meishu-Sama estavam baseadas apenas no ângulo de visão através do qual as pedras deveriam ser apreciadas, de modo que, num relance de olhos, ele disse: “Faça assim “
A FORMA COMO MEISHU-SAMA DAVA VIDA ÁS PEDRAS
Repórter: No jardim de musgos também há grandes pedras, não é?
Katsumata: Aquela ali também é bem grande. Está enterrado mais ou menos um metro abaixo da terra. As outras não. Sempre que lidamos com pedras, fazemos tudo para que elas pareçam bem grandes, mas Meishu-Sama pensava de modo diferente. Para ele, o importante, quer se tratasse de pedra grande ou pequena, era utilizá-las de acordo com o lugar apropriado, dando-lhes vida. Assim, certa vez, quando ele mandou que abaixássemos umas pedras, colocamo-las um metro dentro da terra.
Além disso, colocamos uma quase plana em frente ao Templo da Luz do Sol, enterrando-a, também mais ou menos um metro. Isso por que Meishu-Sama, dissera: “Se ela ficar muito alta causará má impressão”. Realmente, depois de colocada, ficou muito melhor da forma como Meishu-Sama falou.
Repórter: A sua maneira de utilizar as pedras era bem diferente daquela empregada por todos os jardineiros que tinham existido até então, não é? Imagino que, no começo, devem ter ficado perdidos...
Katsumata: Acho que no primeiro ano sim, mas por mais que um especialista pense e procure fazer o melhor, o que é ruim, não deixa de ser ruim. Como a colocação das pedras ficava melhor quando eu agia conforme a instrução do Mestre considerou que o essencial era ser obediente. Mais tarde, fui compreendendo por que Meishu-Sama dizia para colocar uma pedra de determinado modo. Por isso, hoje em dia, ajo como ele: logo que percebo uma falha, procuro corrigi-la rapidamente.
Repórter: O Sr. Morimoto, no começo, trabalhava fora, e, ao mesmo tempo, para Meishu-Sama. Depois, passou a trabalhar apenas para Meishu-Sama, isto é, para a Igreja. Penso que, até chegar a esse ponto, ele deve ter passado por várias dificuldades.
Morimoto: Foi na época em que comecei a trabalhar no Shinsen-kyô de Hakone. Certo dia, recebi um telefonema da sede provisória, situada no bairro de shimizu, em Atami, dizendo para que eu levasse três pés de sassa(uma espécie de bambu) até Hakone. Como pensei que qualquer pessoa pudesse plantá-los, levei um comprido, um médio e um curto. “Aqui estão” – disse eu. Com a intenção de deixá-los ali e voltar logo, fui embora, mas quando acabara de entrar no trem, o Senhor K veio correndo atrás de mim e disse: “Meishu-Sama pediu para que o senhor plantasse os pés de sassa”.
Então eu respondi que, embora Meishu-Sama tivesse dito que eu deveria voltar e plantá-los, não havia necessidade, pois, naquele tempo ainda estavam lá o irmão mais velho do Sr. Katsumata e cerca de trinta jardineiros. A ele falou: “Não, Meishu-Sama recomendou que você mesmo os plantasse e por isso lhe peço que o faça”.Como eu fora indicado nominalmente pensei que era melhor obedecer, e então voltei. Quando perguntei o lugar em que deveria plantar os pés de sassa, disseram-me que seria atrás do Solar da Montanha Divina, na frente de uma rocha que havia no canto.
Sem pensar na intenção de Meishu-Sama,ao determinar que eles fossem plantados ali,coloquei o pé de tamanho médio no fundo; em seguida, o mais comprido, e na frente, bem separado, o mais curto. Nesse momento, o Senhor H que estava ao meu lado, perguntou-me: “Por que plantou o mais curto afastado dos outros?” De imediato, eu respondi o que me veio á cabeça: “Tanto a raiz do bambu como a do sassa espalham-se nos lugares bem afastados, e aí nascem os seus brotos. Por isso, calculei que ele tivesse nascido aqui”. Mas acrescentei: “Se Meishu-Sama perguntou por que plantei dessa maneira, responda que o menor foi colocado no lugar onde a raiz se expandiu e nasceu o broto”.
Dito isso, fui embora. Depois, fiquei meditando por que Meishu-Sama me mandara plantar aqueles bambus, e mais tarde, perguntei ao Senhor K o motivo daquela ordem. Ele respondeu que Meishu-Sama queria saber de que maneira eu plantaria. Então eu lhe disse que, se era esse o motivo, ele poderia tê-lo dito a mim, pois eu também tinha minhas próprias ideias sobre o assunto. Entretanto, segundo ele, Meishu-Sama havia pensado que eu plantaria o pé mais alto no fundo; em seguida, o médio no final o mais curto, e todos separados pela mesma distância. Contudo, ao olhar o modo como eu os plantara, ele disse que o jardineiro trabalhara como se estivesse vivificando flores.
Repórter: Quer dizer que o senhor foi testado, não é? Meishu-Sama desejava saber se o senhor os plantara como se eles já tivessem sido plantados há muito tempo e crescidos naturalmente e, também até que ponto o senhor via as coisas de forma correta? Ele achou bom do jeito que o senhor plantou?
Morimoto: Parece que sim.
Repórter: Ele viu a sua capacidade, não é?
“Não pude descansar um dia segue”
Morimoto: Em Atami, depois que o Senhor K foi embora, passei a receber as ordens de serviço diretamente. Assim, pude trabalhar com mais liberdade. Entretanto, embora pensasse em descansar, não podia fazê-lo nem um dia segue. Se descansasse, outra pessoa receberia as ordens no meu lugar. Então, não se entenderia nem se transmitiria o sentimento de Meishu-Sama. Isso, porque as pessoas comuns apenas ouvem e dizem: “Sim, compreendi”. Ora, ouvindo apenas não se entenderia nada do que Meishu-Sama dizia, pois suas palavras eram poucas e ele não dava explicações detalhadas. Era por esse motivo que eu não descansava. Sabia com que pensamento Meishu-Sama dava as ordens e, para entendê-las mais concretamente, pedia-lhe que dessas ordens mais pormenorizadas. Por exemplo: Como eu não soubesse com que altura deveria fazer o monte do Jardim das Ameixeiras, e o terreno fosse um vale cheio de altos e baixos, disse a Meishu-Sama: “Gostaria que esperasse um pouco; vou colocar a demarcação”. Então, coloquei paus em todo o terreno e estiquei uma corda. Procedendo assim, recebi orientação concreta para leinfalivelmente,apareciam coisas que precisavam ser refeitas.
Repórter: Comumente, embora não estejamos satisfeitos, respondemos “sim”, mas é importante insistirmos na pergunta até ficarmos convencidos, como o senhor fazia. Entretanto, isso também exige coragem, não é?
Morimoto: Como Meishu-Sama, quebrava o senso comum tradicional e construía jardins baseados num novo conceito de beleza, ninguém compreendia nada. Por isso, apenas ouvindo-o e respondendo “sim senhor”, embora não tivéssemos entendido o que ele dizia, não era possível compreender plenamente sua vontade, nem suas palavras. Talvez, Meishu-Sama tinha pensado que eu fosse meio ignorante, mas eu não me importava com o que ele pensasse, e por isso lhe fazia perguntas até entender o que ele queria. Não só na construção do Jardim das Ameixeiras, como também da Colina das Azaléias, a que me referi há pouco, utilizamos caminhões para jogar terra naquele lugar tão amplo, e assim as depressões foram aterradas, mudando muito a topografia do terreno. Era um trabalho realmente árduo no qual eu estava seriamente empenhado. Por isso, quando Meishu-Sama,dava alguma ordem, eu sempre lhe pedia para esperar um pouco, e colocava bambus e esticava cordas.
Repórter: O Senhor devia ficar muito preocupado quando pedia que Meishu-Sama esperasse, não é?
Morimoto: De fato. Mas, como eu estava trabalhando com seriedade, mesmo que ele me cobrasse o serviço, perguntando se ainda faltava muito, eu dizia; “Sim senhor ainda falta um pouco”. E, acabando de esticar a corda, pedia para que ele olhasse. Fossem quais fossem as reclamações de Meishu-Sama, dissesse ele o que dissesse, e por mais carrancuda que se mostrasse a sua fisionomia, eu insistia em que ele detalhasse seus planos: “É para fazer desta ou daquela maneira?” Só depois de satisfeito eu agia.
Repórter: A julgar pelo que o senhor está dizendo, parece-me que, todos os dias, era uma luta séria não?
Morimoto: Além disso, quando me dava as ordens, Meishu-Sama me fitava bem nos olhos, e por isso eu ficava com medo. Deve ter acontecido o mesmo com o Sr. Katsumata, mas eu trabalhava com o sentimento de que, estando ou não ali, Meishu-Sama sempre me observava. Se eu não trabalhasse com esse sentimento, não teria conseguido realizar aquela obra. Talvez por isso Meishu-Sama colocou-a sob a minha responsabilidade.
Katsumata: Comigo aconteceu à mesma coisa. Nunca me veio ao pensamento que era desnecessário fazer tal coisa porque Meishu-Sama estava longe, ou que devia fazê-la por que ele estava perto.
Morimoto: Até a uma pessoa como eu, Meishu-Sama sempre se dirigia assim: “Sr.Morimoto, venha aqui um instante...” Ele dava ordens chamando-me de “senhor”. Entretanto, nunca me disse palavras de elogio pelo que eu houvesse feito. Parece que me elogiava por trás, mas, diretamente, jamais falou que eu me saí bem numa tarefa. Quando ficava pronto um trabalho, como por exemplo, um serviço no Jardim das Ameixeiras eu dizia para Meishu-Sama apenas isto: “Está terminado”. Aí ele respondia: ”Hum.” como se o som saísse de dentro do abdome. Dando uma volta e encontrando uma árvore plantada, acrescentava: “Hum... plantou uma árvore aqui”... ”Sim plantei”, dizia eu. Ao ver outro lugar que já estava pronto, retrucava: “Hum. fez aqui também...” E eu: “Sim, fiz” A conversa se limitava a essas palavras. Nem Meishu-Sama nem eu entrávamos em pormenores. No começo, eu pedia que ele examinasse o trabalho, dizendo: “Fiz de acordo com as suas orientações. O que é que o senhor acha?” Mas logo da primeira vez que eu disse isso, ele me desaprovou: ”Não está bom; faça-o de novo”. Todas as vezes que ele falava assim, eu ficava nervoso, pois achava que havia seguido as ordens recebidas.
Entretanto, á medida que entendia a vontade de Meishu-Sama, vi que ele agia dessa forma porque eu fazia as coisas sem ter convicção, e concluí que não poderia continuar assim. Era preciso que eu fizesse o trabalho o trabalho com seriedade e firmeza, de acordo com as instruções. Depois de ter compreendido que se o trabalho não estivesse bom, Meishu-Sama o diria limitava-me a falar: “Ficou pronto”. Ele apenas comentava: “Ah! É?” e chacinava o serviço. Portanto, mesmo quando eu plantava uma árvore, era só dizer: “Está plantada”. Não era preciso usar de palavras para saber o que ele achava; ficando calado, Meishu-Sama expressava a sua aprovação.
Repórter: Aliás, eu acho que nesse tipo de conversa é que vemos a verdadeira postura da Fé.
Morimoto: Na ocasião em que ia ter início a construção da Colina das Azaléias, abaixo do Palácio de Cristal, recebeu a seguinte instrução: “Construa de maneira que, de todos os lados, ela seja vista com o formato redondo”. Acontece, porém que em cima, haveria um prédio, não é verdade? Sendo assim, tive de fazer um grande sacrifício para deixá-la arredondada, levando mais ou menos um ano para terminá-la. Durante todo o período daquela construção, Meishu-Sama vinha vê-la diariamente e ficava apreciando-a. No dia em que ela ficou pronta, comuniquei-lhe: “Ficou pronta hoje”. Aí ele disse: “Ah! É?” Sozinho, deu uma volta ao redor da Colina e foi embora sem dizer nada. Então eu pensei: “Puxa, isso mostra que o meu trabalho foi aprovado!”.
Repórter: Em suma, os sentimentos de Meishu-Sama não se expressavam por meio de palavras, mas sentíamos profundamente que ele nos transmitia a sua aprovação. O Mundo Ideal a que Meishu-Sama se referiu, certamente será um mundo em que as pessoas se farão entender através da percepção, empregando o mínimo de palavras.
A PREOCUPAÇÃO DE MEISHU-SAMA COM A CONSTRUÇÃO DA ESCADARIA EM ZIGUEZAQUE
Repórter: Qual foi a maior preocupação e o maior cuidado de Meishu-Sama ao construir o Zuiun-Kyô, a Terra Celestial de Atami?
Morimoto: Meishu-Sama se preocupou com tudo, mas parece-me que principalmente com o corrimão da escadaria em ziguezaque. Ele mesmo o desenhou e ficou muito ansioso até vê-lo pronto. No começo do verão de 1953, se não me engano, quando foi para Hakone, Meishu-Sama deixou instruções para que o corrimão fosse feito com vãos em forma oval. Eu me esforcei para terminá-lo até o Outono, época em que ele retornaria a Atami. Quando Meishu-Sama regressou, veio imediatamente ver a obra e chegou a dizer: “Sr. Morimoto está muito bom”. Com isso, percebi que ele estivera bastante preocupado para ver como ficaria, depois de pronta, aquela escadaria cujo projeto era uma experiência inteiramente nova.
Katsumata: Meishu-Sama parecia muito preocupado com essa obra, até mesmo quando se encontrava em hakone.
Morimoto: Ele teve cuidado inclusive no que se refere á altura dos degraus. Antes de determiná-la, fez uma experiência com Nidai-Sama, pois queria que velhas mulheres e crianças pudessem subir a escadaria com facilidade. Graças a Deus, Meishu-Sama
Acabou adquirindo confiança em mim a ponto de considerar que tudo que eu dizia merecia crédito. Quanto a mim, achei que foi muito bom ter largado o meu serviço externo e empenhar-me somente no da igreja.
MEISHU-SAMA ALEGRAVA OS FIÉIS COM PLANTAS RARAS
Repórter: Penso ser difícil encontrar um local que tenha reunido tipos tão raros de cerejeiras como o Zuiun-kyô. O que é que o senhor acha?
Morimoto: A propósito lembra-me de que, quando vieram ao Solo Sagrado de Atami membros da Associação da Flor, um deles me perguntou: “O senhor sabe de algum outro lugar onde haja mais cerejeiras do tipo “Kanzakura” e “HisaKura” do que aqui?”Respondi-lhe que, para o lado de Izu, talvez houvesse e surgeri que o procurasse. Entretanto, naquele local, só havia um ou dois pés.
“No Zuiun-Kyô existem mais ou menos quarenta pés de cerejeiras do tipo”Kanzakura”, e outras que floresam cedo, não é?” “Ao ser interpelado, por pessoas de fora, com perguntas semelhantes, pude compreender que o Zuiun-Kyô é realmente um lugar maravilhoso.
Repórter: Esse é um grande tesouro?
Morimoto: No começo, havia apenas um pé de cerejeira do tipo “hisakura”, mas agora existem muitos em virtude das mudas obtidas pelo processo de enxerto. Entretanto, eles levaram quatorze ou quinze anos para crescer daquela forma.
Repórter: Quando iniciamos alguma coisa tudo é difícil, e acredito que o senhor tinha sofrido bastante não é?
Morimoto: Embora eu fosse jardineiro profissional sofri muito, pois não tinha experiência sobre enxerto e desenvolvimento de cerejeira “hisakura”. Pedi ajuda a um negociante, mas não deu certo, de modo que não teve outro recurso a não ser comprar um livro técnico e estudar o modo de fazer o enxerto. Não tinha muita confiança, mas tentei fazê-lo sozinho e consegui-me sair bem. Depois, fiz o enxerto num terreno do Zuiun-Kyô, a Terra Celestial. Após ter pegado, levei o tronco para minha casa, replantei a cerejeira no meu jardim e cuidei dela. Quando deu flor, trouxe-a para cá. Como ainda era nova, não se comparava aos velhos pés já existentes, mas, com o tempo, acabou ficando maravilhosa. No auge do seu florescimento, não se vêem os galhos; só as flores, bem vermelhas...
Repórter: Como a cerejeira “Kan-hisakura”não é uma qualidade que se possa encontrar em qualquer parte, deve ter sido difícil trazê-la para cá não?
Morimoto: Certa vez, a uma pergunta feita por Meishu-Sama respondi: “Acho que essa espécie de cerejeira deve existir em qualquer lugar”. Contudo, procurando-a, não consegui achá-la com facilidade. Fiquei numa situação difícil. Por isso, tanto no que se refere ás azaléias como ás ameixeiras do Jardim das Ameixeiras e ás cerejeiras, não há um pé sequer que tenhamos conseguido sem esforço, como se caísse do céu de repente. Enquanto procurava cuidadosamente as cerejeiras que eram necessárias, por coincidência, escutava uma conversa esclarecedora ou conseguia encontrá-las. Foi uma procura que exigiu muito esforço e na qual tivemos de enfrentar muitas dificuldades. Aliás, se ficarmos esperando de braços cruzados, confiando apenas em Deus, jamais conseguirá receber graças.
No declive existente entre a Colina das Azaléias e o “Sekuin-Do”, estão plantadas muitas cerejeiras da montanha, não é verdade? Só ali há cem pés, mas foram todas plantadas e penamos bastante para encontrar essa quantidade. Além do mais, só procuramos cerejeiras de boa qualidade... O assunto vai e volta, mas o plano de plantar cerejeiras naquele local já existia desde o tempo de Meishu-Sama e foi concretizado por Nidai-Sama. Quando o terreno inclinado ficou pronto, ela disse que as flores das cerejeiras ”somaram yoshino” desabrocham e caem logo, por isso não tem graça. Acrescentou que a vida dessas árvores é curta e que as flores e as folhas de cerejeiras da montanha têm mais elegância e beleza. Sendo assim, orientou-nos que procurássemos aquelas que fossem belas e que tivessem flores e folhas de colorido harmônico. Existem inúmeras cerejeiras da montanha, mas é muito difícil encontrá-las com flores e folhas de boa cor. Ficou combinado procurá-las nas montanhas e chegamos a escalar uma com esse objetivo.
Achamos as cerejeiras, mas o dono da montanha, que era o principal, não se sabia quem era. Entretanto, visto que queríamos comprá-las, colocamos um marco no local, amarrando-as com uma corda. Também houve falhas, mas aprendi que com esforço tudo se consegue.
Repórter: Ouvimos dizer que, como Meishu-Sama tinha o desejo de alegrar todos os fiéis, trazia plantas raras e dizia: “Não imitemos os outros, sejamos originais”. Acho que era por isso que, quando sabia de uma planta rara, decidia comprá-la imediatamente.
Morimoto: Ele tinha decisões rápidas, não é? Certa vez, comprei um pé de ameixeira branca, de galhos pendentes com mais ou menos cem anos. Embora fosse uma só, achei que era de boa qualidade e perguntei a Meishu-Sama: “Encontrei uma ameixeira branca com mais ou menos cem anos. O que é que o senhor acha?” Ele respondeu com outra pergunta: “Quantos pés”?” “Apenas um” respondi-lhe”. Procure cinco ou seis “pés e compre-os”, disse Ele. Dessa forma, o assunto se prolongou, e ele ordenou que eu fosse procurá-los e mais rápido possível. Feita a compra, comuniquei-lhe o fato, ao que ele respondeu apenas: “ah, é”? Não perguntou nada, nem mesmo o preço. Se lhe falasse, ele ou veria, mas. Tivemos muitas dificuldades no transporte da ameixeira branca de galhos pendentes que está plantada ao lado do Palácio de Cristal. O transporte foi feito á noite, de shimo-sôga, um local fora do perímetro urbano da cidade de Odawara. Utilizamos três carros e mais ou menos trinta pessoas, e demoramos quinze horas para transportá-la.
REALÇAR AS PECULIARIDADES DA PLANTA
Repórter: As azaléias plantas na Colina das Azaléias do Zuiun-kyô são de vários tipos; existem aproximadamente quarenta tipos da mesma espécie. São mais de três mil e seiscentos pés, nas cores vermelha branca, rosa, e violeta, colorindo uma colina inteira que, do final de abril ao final de maio, floresce com tal esplendor, que podemos chamá-la de Paraíso das Flores. Mas essa beleza logo termina, dando lugar á estação das azaléias denominadas “satsuki”. A propósito logo nos lembramos das que estão plantadas no shinsen-kyô de hakone. Mas com que objetivo Meishu-Sama plantou essa flor naquele local?
Katsumata: Todos os anos, no final de maio, Meishu-Sama semudava para o shinsen-kyô de Hakone. Essa é a época do término da floração das azaléias de Atami e o inicio do florescimento das azaléias!satsuki”, em Hakone. Como, aí as flores que florescem cedo e as que florescem tarde estão misturados é possível apreciar flores durante todo mês de junho. Parece, também que as azaléias “Satsuki” se dão muito bem com o ambiente natural de Hakone, caracterizado pelo alto grau de umidade. Acho que foi por esses motivos que Meishu-Sama mandou plantar esse tipo de azaléia no shinsen-kyô.
Morimoto: Meishu-Sama passava em Hakone o período que ia do fim de maio até o começo de outubro daí até o fim de maio do ano seguinte, cuidava da Obra Divina em Atami. Para que tudo se ajustasse a esse modo, de vida recebíamos ordem de plantar em Hakone todas as plantas que havia em Atami, como as azaléias “satsuki” e o jasmim, que florescem do outono até a primavera do ano seguinte.
Katsumata: Ao contrário, muitas plantas de Hakone também foram levadas para Atami.
Repórter: Acredito que Meishu-Sama pensava nas peculiaridades de cada planta. Como Hakone é um local rodeado de montanhas e o seu grau de umidade é elevado ele escolhia plantas adequadas a essas condições ao passo que em Atami que está em frente ao mar e tem um clima temperado, estão plantadas aquelas que se ajustam ás suas condições.
Morimoto: Realmente, Meishu-Sama só dava orientações a respeito das plantas depois de ter refletido bem sobre as peculiaridades de cada uma. Certa vez, ele me ensinou algo sobre a ameixeira. Em termos de aroma, a flor da ameixeira que dá frutos é mais perfumada; em termos de flor, a ameixeira que só dá flores é mais bela. Apesar da minha profissão, eu conhecia as peculiaridades da árvore, mas ignorava as peculiaridades da flor. No entanto, através do meu serviço no jardim das ameixeiras, pude comprovar que Meishu-Sama conhecia tudo sobre ambas.
Tendo recebido instruções para encontrar árvores velhas e de flores perfumadas, percorri todo o Estado de Saitama, mas enfrentei muita dificuldade, pois ninguém queria vender ameixeiras que dão frutos. A maior parte foi comprada e transportada do bairro de Shimo-Sôga, um lugar situado fora do perímetro urbano de Odawara. Efetuada a compra, também foi muito trabalhoso o transporte. Não era nada fácil transportar pés de ameixeiras tão grandes como aqueles. Como, naquela época não havia estradas tão largas como hoje, eles danificavam as paredes da casa de uns e quebravam os galhos do jardim de outros, causando muitos problemas ás pessoas que residiam ao longo da estrada.
Repórter: Além disso, houve problemas relativos ao tempo gasto no transporte, pois era preciso que ele fosse efetuado num curto espaço de tempo, devido á época do plantio, não é verdade?
Morimoto: De fato. Entretanto, um caminhão grande só dava para transportar um ou dois pés, e para colocá-los dentro do caminhão, necessariamente levavam-se três a quatro horas. A estrada era ruim e estreita e por isso era preciso muito cuidado para não quebrar os galhos das árvores nem incomodar os outros. Transportadas as ameixeiras, tinha-se de abrir os buracos um a um para plantá-las. Assim, desde a compra das árvores até o final da plantação, despendeu-se muito tempo do começo até o fim, foram quatro anos.
Repórter: Puxa! Foi muito trabalhoso, não? O sacrifício exigido para transportar e plantar os trezentos e sessenta pés de ameixeiras, num determinado espaço de tempo foi incalculável, e só os que o fizeram sabem avaliar. Para realizar um trabalho desse tipo, a hora, ou melhor, a época torna-se muito valiosa, não é ?
Katsumata: no tipo de serviço que empreendemos o mais importante é a época certa. Se não tivermos isso sempre em mente, os resultados não seram satisfatórios e falharemos. Mesmo que, por acaso, o que foi plantado pegue sempre haverá defeitos.
Repórter: Certa vez, em Hakone transplantou-se um grande número de enormes cedros, e nenhum secoi; todos eles pegaram. Creio que isso também se deve ao fato de terem sido plantados na época certa, não?
Katsumata: Aqueles cedros foram transplantados por que houve uma ordem de aplainar a Colina de Luz do Shinsen-Kyô. A fim de preparar o terreno. Normalmente o tempo apropriado para se removerem cedros e ciprestes é em meados de novembro. Quando se trata de árvores muito grandes, a remoção de vê ser iniciada em dezembro e terminada até a fina de março do ano seguinte. Escolhendo a época do inverno, replantamos mais ou menos oitenta pés. Graças a Deus, como a época foi apropriada, até as árvores grandes pegaram.
Há vinte anos, Meishu-Sama comprou o terreno plantado de cedros onde hoje está situado o Santuário da Divina Luz. Certo dia, quando eu estava cortando uma árvore, ele disse: “Não se deve cortar árvores que já estão crescidas, a não ser que haja necessidade; elas são importantes e por isso não devem ser cortadas”. Então, parei com o serrote já na metade do corte. Apesar disso, essa árvore não secou, existe até hoje. Está no vale situado á esquerda do Santuário da Divina Luz. Certamente só eu sei de sua existência, ninguém mais.
Repórter: O fato de Meishu-Sama querer preservá-la mesmo com o corte do serrote, demonstra o seu grande amor ás árvores. Ele considerava, sagrada uma vida que não se compra com dinheiro, não é?
Katsumata: Seu amor era realmente grande. Ele só permitia que as árvores fossem cortadas se elas atrapalhasem uma construção ou se fosse absolutamente necessário.
Repórter: Para finalizar, se tiverem lembrança de alguma palavra de Meishu-Sama, recebida quandoserviam ao seu lado e que ainda hoje permanece gravada em seus corações, transmitam-na para nós
Katsumata: Aconteceu há dez anos. Estava relembrando Meishu-Sama, e de repente como se uma Luz ilumina-se meu coração, percebi que todos os seus ensinamentos estavam interligados. Concluí isso meditando umas palavras que havia deixado passar despercebidas quando recebi ordem para cortar uns galhos, há vinte anos. Ele dissera estas palavras: “O homem é como as árvores. Tem partes pontiagudas, enroladas e se não tomar cuidado para eliminá-las, não conseguirá um bom relacionamento com os seus semelhantes. É isso que estou ensinando”.
Realmente, se agirmos dessa maneira, concretizar-se-á o Paraíso Terrestre, onde não há conflito de espécie alguma.
Morimoto: hoje, objetivando o Centenário de Meishu-Sama, unida a igreja vem desenvolvendo a construção do Museu de Belas-Artes de Atami. Ao ver-me num beco-sem-saída, relembro as épocas passadas, e parece que ouço Meishu-Sama me incentivar: “Morimoto, esforce-se; não se esqueça do tempo passou”.
Doravante, para construir o Paraíso Terrestre idealizado por Meishu-Sama, também quero continuar me esforçando na construção de belos jardins, que não encontram similares em nenhum outro lugar.
Fonte: Álbum Solo Sagrado
(A Terra Natal das nossas Almas)
Volume: “Primavera e Verão”
(Tradução: Igreja Messiânica Mundial do Brasil)
Edição: Maio /1980
Págs.(84/ 97)
Fotos: Alexandre Mauj Imamura
Site: lostenjapan.potalnippon.com
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