MISSÃO DE VIDA
Em Maio/2000 Revmo.Tetsuo Watanabe (Presidente Mundial da Igreja Messiânica) em entrevista a uma revista falou sobre o difícil início da Igreja no Brasil e seus planos para o futuro.
O senhor veio para o Brasil com o objetivo de divulgar a Igreja Messiânica. Quando e como isso foi feito?
Lá pelos idos do final da década de 50, eu vivia aquela fase que qualquer jovem vive, de indefinição quanto ao próprio futuro. Eu estava infeliz e insatisfeito comigo mesmo. Cresci acompanhando o trabalho missionário de meu pai, fervoroso seguidor do Mestre Meishu-Sama, fundador do Movimento Messiânico. Presenciei centenas e centenas de milagres, inclusive um com a minha mãe, que ressuscitou alguns minutos após ter falecido no parto, apenas com algumas palavras ditas por Meishu-Sama.
Fui testemunha ocular de graças e mais graças que os membros recebiam com os conselhos que meu pai, já um missionário convicto, transmitiam, baseado nos ensinamentos e orientações do Mestre. Mas não me satisfazia prosseguir o trabalho desenvolvido por meu pai, usufruindo seus louros e méritos apenas. Eu queria fazer algo por mim mesmo. Um dia, pedi permissão a meu pai para me ausentar da casa e meditar sobre minha vida. Disse-lhe que iria para um Templo Zen-budista da cidade, onde ficaria fazendo meditação durante 10 dias.
Meu pai não me impediu. Disse apenas para que eu cumprisse integralmente aquilo a que estava me propondo. Fui até o templo,mas para minha surpresa, soube que ele estava fechado. Sem alternativa e para não descumprir o que havia prometido, resolvi escalar uma montanha ao lado do templo, para lá meditar. Confesso que não consegui meditar quase nada. A fome, o frio e os mosquitos me impediram. Porém, uma coisa me veio á mente. Pensei: “Olhando a natureza, ela está sempre calada. Não reclama de nada. Só o homem é que vive reclamando das coisas da vida. É, afinal de que adianta? Ninguém consegue viver como quer! Já sei! A partir de hoje, vou criar, em mim uma segunda pessoa para olhar para mim mesmo. Vou me tornar um barquinho de papel e deixar que esse barquinho navegue pela correnteza da vida. Para onde a correnteza me levar eu irei.”
Voltei para casa depois de alguns dias, sujo e faminto. Achei que ia levar uma surra repreensão de meu pai, mas ele foi muito hábil e sábio para comigo. Não me disse nada. Apenas aconselhou-me a tomar banho, e em seguida,me chamou para uma conversa. Depois desse diálogo, comecei a participar mais ativamente como líder de jovens na igreja e cursei o seminário por cerca de dois anos. Numa outra ocasião, meu pai me chamou para conversar sobre outro assunto e me contou que fora procurado por missionários que estavam iniciando a difusão do movimento no Brasil e estavam precisando de ajuda de novos missionários.
De supetão, ouvi a pergunta:”Você não quer ir para o Brasil?” Pergunta inusitada aquela. Eu nada sabia do país, a não ser um pouco do que ouvira sobre a Amazônia sobre os índios e sobre o café. Perguntei se meu pai me daria tempo para pensar, e ele disse, “sim! Você tem um minuto”. Nesse instante, como um flash, surgiu em minha mente o que eu tinha refletido na montanha dias antes. Lembrei-me do barquinho de papel e pensei,”É, parece que Deus está conduzindo meu barquinho para o Brasil...” Incontinente, respondi, Eu vou ! Foi a decisão mais acertada de minha vida.
Dois anos mais tarde, rumei para o Brasil, junto com outros sete jovens. Foram 62 dias de viagem de navio. Aportamos primeiro no Rio de janeiro e eu me encantei de imediato com a cidade. Acho que foi amor á primeira vista. Pensei “Um dia eu volto para difundir os Ensinamentos de Meishu-Sama nesta cidade maravilhosa”. Nosso destino final, porém, era santos. De santos, fomos para São Paulo onde fiquei na antiga Igreja Butantã na época, uma das bases da pequena e pioneira difusão no Brasil. Lá, eu ministrava johrei a dezenas e dezenas de pessoas por dia. Nos dois primeiros anos, só fiz isso: johrei, johrei e johrei.
Mesmo assim, ainda sem dominar o idioma, presenciei centenas e centenas de milagres. Conduzi perto de 700 pessoas, ganhei auto confiança e achei que já estava pronto para enfrentar meu desafio: ir sozinho para o Rio de janeiro. Ledo engano. Cheguei ao Rio em julho de 1964, os milagres começaram a escassear. Batia de porta em porta oferecendo johrei e era recusado com frequência. Fui ridicularizado e discriminado. Naquela época, os filmes americanos divulgavam a imagem do japonês como um povo covarde e traidor. Passei por inúmeras dificuldades: desconfiança, falta de dinheiro, até para comer e dormir. Cheguei mesmo a dormir em bancos de praças e a alimentar com um único sanduíche por dia. Foram oito meses muito duros.
Pensei até que havia sido abandonado por Deus. Porém, um dia recebi o primeiro milagre. Um marinheiro acidentado que estava em coma, recuperou-se de um momento para o outro com o johrei. Assim, voltei a ganhar a confiança e os milagres retornaram. Reuni um número de pessoas já certas aluguei uma casa no Bairro do Maracanã, na Rua Santa Luíza. Em função dos milagres que surgiam dia a dia, as pessoas começaram a vir, a melhorar e a divulgar os milagres. Apareciam centenas e centenas de pessoas por dia, chegando de madrugada para pegar senhas.
Como o senhor conseguiu expandir as atividades e divulgar mais amplamente a mensagem da messiânica?
Como disse, foi graças aos milagres do johrei. Depois de ter me fixado no rio e vencido as primeiras dificuldades, os milagres foram acontecendo ás dezenas, ás centenas, aos milhares. Percebi, porém que não bastava as pessoas receberem milagres. Não queria absolutamente formar “mendigos da fé”. Era preciso fazer delas pessoas úteis ao próximo.Tinha de fazer com que elas entendessem o pensamento maior de Meishu-Sama: “Para ser feliz, é preciso primeiro fazer feliz o seu semelhante”.
Comecei então o trabalho de formação do elemento humano. Fiz aulas, palestras, transmitia mesmo com o meu péssimo português as experiências que tinha vivido naquela semana, naquele mês. O trabalho não foi só meu. Recebi sempre a colaboração de muitas pessoas todas dispostas a fazer alguma coisa, por menor que fosse, em prol do crescimento da obra. Nessa ocasião, os milagres também atraíram a atenção da grande imprensa e no Rio, foram publicadas dezenas e dezenas de reportagens em jornais e revistas conceituados, com títulos sensacionalistas como: chegou a Luz do Oriente; Arigó Japonês,Johrei cura Leucemia. Isso também atraiu muitas pessoas. Foi assim, com a ajuda de muitos, que a igreja foi se desenvolvendo os missionários ganhando experiência e convicção pessoais.
Em 1969, inauguramos a primeira sede no Rio de Janeiro. Já contávamos com 1.500 membros. Dois anos depois, já eram 4 mil missionários que atuavam ministrando o johrei. A frequência diária chegava a 5 mil pessoas. A partir daí, esses membros do Rio começaram a divulgar a Igreja, os Ensinamentos e o johrei para seus parentes e amigos de outros estados. Todo o Norte e Nordeste, Brasilia, Goiânia. A essa altura, já tinhamos um corpo fimre de ministros e a fé messiânica ia sendo consolidada pouco a pouco. Em 1971, instituimos a Fundação Mokiti okada para desenvolver toda a ação cultural, educacional, assistencial, editorial e de pesquisa do pensamento messiânico.
Em 1976, fui designado Presidente da Igreja Messiânica no Brasil. Em 1982, inauguramos o Edíficio Mokiti Okada, que abriga hoje a Sede administrativa da Igreja e da Fundação. Iniciamos a divulgação e a implantação do programa de agricultura natural e as atividades do Belo, centralizadas na Academia de Ikebana Sanguetsu, além de uma série de outras ações abrangentes e ultra-religiosas que, no seu conjunto, formam o Movimento Messiânico, que nada mais é do que o resultado da prática do pensamento e proposta amplos de Mokiti Okada para a criação de uma nova civilização.
Em 1995, como consequência de toda essa expansão, contando com a união e dedicação exemplar de nossos membros e adeptos, construímos e inauguramos o Solo Sagrado do Brasil, instalado ás margens da Represa de Guarapiranga, em São Paulo. Hoje, o parque recebe mensalmente mais de 50 mil visitantes. No país inteiro, já somos mais de 300mil missionários e estão ligados a nós mais de 3 milhões de adeptos.
Recentemente o senhor foi designado Presidente Mundial da Igreja e, certamente, está na fase de composição do seu staff. Como o senhor também permanece como Presidente da Igreja no Brasil, quais são as suas metas para o futuro próximo?
Meus planos são muito grandes. Quero realizar aquilo que o Mestre Meishu-Sama deixou para ser concretizado. Ele sempre orientou: “O homem depende do seu pensamento”. Por isso, precisamos ter sonhos grandes. Lamento por aqueles que perderam a capacidade de sonhar ou que tem sonhos menores do que eles próprios. No Brasil, quero em três anos dobrar a nossa obra, em todos os sentidos: dobrar numericamente, no conteúdo e em nossa capacidade. Quero também me empenhar em expandir a Obra Messiânica em 100 países.
Hoje, já estamos em 60, 68 dos quais estão sendo difundidos por brasileiros. Por isso, quero continuar contando com a imprescindível participação especial dos brasileiros nesse trabalho. Eu acho que o brasileiro, por suas características humanitárias é o povo escolhido. Um outro projeto ao qual vou dar grande ênfase é o da Agricultura Natural Messiânica. Quero difundi-lo no Brasil e levá-lo ao mundo, para que dentro de poucos anos a humanidade tenha onde e como consumir produtos limpos, saudáveis, isentos de substâncias quimicas nocivas. A bandeira da verdadeira saúde baseada, netre outras coisas, na alimentação pura e saudável, foi tenazmente defendida por nosso Mestre como uma das mais importantes na preservação da espécie humana, e nós vamos persegui-la com muita garra.Quero ainda, nesses próximos dez anos, concretizar no Brasil um projeto arrojado: construir a Cidade da Nova Era, a Arca de Noé do século XXI.
O Que é o Projeto da Cidade da Nova Era ?
Á primeira vista, pode parecer uma grande utopia. Muitos já manifestaram o desejo de erguer algo semelhante, mas até hoje ninguém conseguiu. Certamente não era o tempo certo. O Mestre Meishu-Sama,ainda na fase bem inicial da Igreja, em 1935, já falava, “Um dia vou construir um modelo de cidade ideal”. Quero e vou concretizar esta vontade dele. A cidade da Nova Era, o grande sonho acalentado pela humanidade, é um novo conceito de vida, com valores tão novos que primeiro devem ser impregnados no coração e mente das pessoas. Não se trata de um empreendimento imobiliário ou algo exclusivista, tipo uma cidade só para abrigar messiânicos. Não vamos fazer uma comunidade isolada e elitista, por que isto não está de acordo com a filosofia deixada pelo Mestre. Essa cidade há de ser um local para ser reproduzido em cada estado e em cada país. Reunirá pessoas de bem, espiritualistas e altruístas que respeitam e se submetem ás Leis da Natureza. Será uma verdadeira Arca de Noé do século XXI. Infelizmente, ao mesmo tempo em que progrediu materialmente, a humanidade se afastou dos principios básicos e originais inspirados nessa Lei da Grande Natureza. O materialismo, o egoísmo desmedido e a ambição fizeram o homem distanciar-se dessa lei. Isto hoje se evidencia em todos os campos da atividade humana. Na educação, na agricultura, na medicina, na ciência, na politica, em tudo! Então, o ser humano precisa aprender o caminho de retorno á felicidade. Esse caminho só pode ser trilhado por meio de altruísmo e do espiritualismo. Não existe outra via alternativa. A Cidade da Nova Era, será, portanto, a reunião de gente que pensa dessa forma, independente de seus credos, raças, filosofias e classes sociais. Nossa intenção é congregar pessoas, grupos e instituições que julguem está proposta como algo inovador e voltada para o bem da humanidade. Quero que todos se unam a nós e de mãos dadas, possamos construir-la juntos. O Século XXI que se aproxima é tido como a era da percepção, sensibilidade e a era em que aquilo que é falso deverá se tornar verdadeiro. A fé também, para ser autêntica e verdadeira, precisa ser, na essência e na forma, espiritualista e altruísta.
Desejo que o público leitor desta conceituada revista, refletindo sobre esta minha mensagem, disponha-se a colaborar neste projeto, que visa despertar a consciência do homem sobre a sua missão de vida e sua relação com a sociedade e o meio ambiente. E Deus escolheu o Brasil e o seu povo para concretizá-lo.
Fonte: A Revista do Novo Milênio
(Sexto Sentido) Ano : 1
N. 11 – Maio /2000
Mythos Editora – Págs.(28 a 32)
Site: www.mythoseditora.com.br