quarta-feira, 3 de maio de 2017

MENSAGENS DE FILOSOFIA /LITERATURA

Nove Poemas que vão restaurar a sua Fé

Nos últimos meses tem ficado cada vez mais difícil acreditar no ser humano. Guerras e tragédias estão ocorrendo ao redor do mundo e parece uma tarefa impossível pensar em formas de acabar com tanto sofrimento.

É em momentos como esse que recorremos à arte. Neste caso, à poética. Pedimos aos nossos seguidores no Facebook e no Twitter para compartilharem poemas que fazem com que eles se sintam melhores — e restauram pelo menos um pouquinho a fé que eles têm na humanidade. Recebemos algumas recomendações incríveis, veja quais são elas:

1 – Velhas Árvores, Olavo Bilac — sugestão enviada por Aline Moreira, no Facebook

“Olha estas velhas árvores, mais belas

Do que as árvores moças, mais amigas,

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas…

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas

Vivem, livres da fome e de fadigas:

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!

Envelheçamos rindo. Envelheçamos

Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,

Agasalhando os pássaros nos ramos,

Dando sombra e consolo aos que padecem!”

2 – Versos Íntimos, Augusto dos Anjos — sugestão enviada por Cinara Vidigal, no Facebook

“Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável!



Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.



Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!”

3 – Dois e Dois são Quatro, Ferreira Gullar — sugestão enviada por Fabíola Dal Bianco, no Facebook

“Como dois e dois são quatro

Sei que a vida vale a pena

Embora o pão seja caro

E a liberdade pequena

Como teus olhos são claros

E a tua pele, morena

como é azul o oceano

E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria

Por trás do terror me acena

E a noite carrega o dia

No seu colo de açucena

Sei que dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena,

mesmo que o pão seja caro

e a liberdade pequena.”



4 – Cantares, Antonio Machado — sugestão enviada por Leo Castro, no Facebook

“Tudo passa e tudo fica

porém o nosso é passar,

passar fazendo caminhos

caminhos sobre o mar



Nunca persegui a glória

nem deixar na memória

dos homens minha canção

eu amo os mundos sutis

leves e gentis,

como bolhas de sabão



Gosto de ver-los pintar-se

de sol e grená, voar

abaixo o céu azul, tremer

subitamente e quebrar-se…



Nunca persegui a glória



Caminhante, são tuas pegadas

o caminho e nada mais;

caminhante, não há caminho,

se faz o caminho ao caminhar



Ao caminhar se faz o caminho

e ao voltar a vista atrás

se vê a senda que nunca

se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho

não há marcas no mar…

Faz algum tempo neste lugar

onde hoje os bosques se vestem de espinhos

se ouviu a voz de um poeta gritar

“Caminhante não há caminho,

se faz o caminho ao caminhar”…

Golpe a golpe, verso a verso…

Morreu o poeta longe do lar

cobre-lhe o pó de um país vizinho.

Ao afastar-se lhe viram chorar

“Caminhante não há caminho,

se faz o caminho ao caminhar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Quando o pintassilgo não pode cantar.

Quando o poeta é um peregrino.

Quando de nada nos serve rezar.

“Caminhante não há caminho,

se faz o caminho ao caminhar…”

Golpe a golpe, verso a verso”.

5 – Soneto da Fidelidade, Vinicius de Moraes — sugestão enviada por Izabela Alaska, pelo Facebook

“De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.”

6 – Consolo na Praia, Carlos Drummond de Andrade — sugestão enviada por Silvana, no Twitter

“Vamos, não chores.

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis carro, navio, terra.

Mas tens um cão.



Algumas palavras duras,

em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado, devias

precipitar-te, de vez, nas águas.

Estás nu na areia, no vento…

Dorme, meu filho.”

7 – Desejo, Victor Hugo — sugestão enviada por Adriano Martins, no Twitter

Desejo primeiro que você ame,

E que amando, também seja amado.

E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,

Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,

Que mesmo maus e inconsequentes,

Sejam corajosos e fiéis,

E que pelo menos num deles

Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.

Nem muitos, nem poucos,

Mas na medida exata para que, algumas vezes,

Você se interpele a respeito

De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,

Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,

Mas não insubstituível.

E que nos maus momentos,

Quando não restar mais nada,

Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,

Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

E que fazendo bom uso dessa tolerância,

Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,

Não amadureça depressa demais,

E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer

E que sendo velho, não se dedique ao desespero.

Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e

É preciso deixar que eles escorram por entre nós.



Desejo por sinal que você seja triste,

Não o ano todo, mas apenas um dia.

Mas que nesse dia descubra

Que o riso diário é bom,

O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,

Com o máximo de urgência,

Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,

Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,

Porque é preciso ser prático.

E que pelo menos uma vez por ano

Coloque um pouco dele

Na sua frente e diga “Isso é meu”,

Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,

Por ele e por você,

Mas que se morrer, você possa chorar

Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,

Tenha uma boa mulher,

E que sendo mulher,

Tenha um bom homem

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

E quando estiverem exaustos e sorridentes,

Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,

Não tenho mais nada a te desejar “.

8 – Ainda Assim me Levanto, Maya Angelou — sugestão enviada por Kelly Ribeiro, no Twitter

“Você pode me riscar da História

com mentiras lançadas ao ar.

Pode me jogar contra o chão de terra,

mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?

Por que meu brilho o intimida?

Porque eu caminho como quem possui riquezas dignas do grego Midas.

Como a lua e como o sol no céu,

com a certeza da onda no mar,

como a esperança emergindo na desgraça,

assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?

Cabeça curvada e olhos para o chão?

Ombros caídos como as lágrimas,

minh’alma enfraquecida pela solidão?

Meu orgulho o ofende?

Tenho certeza que sim

porque eu rio como quem possui

ouros escondidos em mim.

Pode me atirar palavras afiadas,

dilacerar-me com seu olhar,

você pode me matar em nome do ódio,

mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.

Minha sensualidade incomoda?

Será que você se pergunta

por que eu danço como se tivesse

um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor,

eu me levanto.

De um passado enraizado na dor,

eu me levanto.

Sou um oceano negro, profundo na fé

crescendo e expandindo-se como a maré.

Deixando para trás noites de terror e atrocidade,

eu me levanto.

Em direção a um novo dia de intensa claridade,

eu me levanto

trazendo comigo o dom de meus antepassados,

eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.

E assim, eu me levanto

eu me levanto

eu me levanto”.

9 – Círculo Vicioso, Machado de Assis — sugestão enviada por Gabriela, no Twitter.

“Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

‘Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!

‘Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

‘Pudesse eu copiar-te o transparente lume,

Que, da grega coluna à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela

‘Mas a lua, fitando o sol com azedume:

‘Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume’!

Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume…

Enfara-me esta luz e desmedida umbela…

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?”.

Matéria extraída de Galileu

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