Se olhássemos as coisas colocando-nos ao menos uma vez de cabeça para baixo
Época em que a voz dos Deuses ecoava em nossos corações
Logo após a orientação de Kyoshu-Sama, tomei conhecimento de um Livro escrito pelo Psicólogo Americano Julian Jaynes, intitulado “A origem da consciência no colapso da mente bicameral” (Tradução livre do título original. The Origen of consciousness in the breakdown of the bicameral mind). Nesta obra, Jaynes afirma que a consciência do ser humano teve origem há cerca de três mil anos. Antes disso, o que ele tinha era uma mente dividida em duas, denominada “mente bicameral”. De um lado, estava a que dava as ordens e era compreendida como “Deus” e, do outro, a mente que obedecia a ás ordens recebidas, denominada “ser humano”. Sem unidade entre os lados direito e esquerdo do cérebro, o ser humano vivia em obediência á voz dos Deuses, que era sussurrada no lado direito do cérebro. Depois da aquisição e do desenvolvimento da linguagem, mais precisamente da escrita, a mente bicameral entrou em colapso, dando origem á consciência.
Ao longo da história, Deus deve ter enviado os grandes sábios e santos para suprir as imperfeições da nossa consciência. Durante as celebrações do culto do início da Primavera realizado nos dias 4, 5,6 e 7 de fevereiro de 1954, Meishu-Sama anunciou que, após três mil anos de exílio, um Deus muito correto e rigoroso, chamado Kunitoko-Tachi-no- Mikoto, havia retornado a este mundo,por volta do dia 03 de Fevereiro daquele ano (1954) para manifestar-se como o Grande Juiz e realizar o Juízo Final no plano material.Conta-se que, há três mil anos, o mundo era governado por este Deus, conhecido também como Ushitora-no-Konjin. Ele fora aprisionado e exilado (em determinado lugar da direção nordeste) porque as divindades que viviam sob sua autoridade queriam se vê livre dele.
Tenho a impressão de que existe uma misteriosa “coincidência” entre o que Meishu-Sama disse sobre os três mil anos de aprisionamento do Deus Kunitoko-Tachi-no Mikoto e a teoria de Jaynes sobre os três mil anos de “silêncio” dos Deuses, em outras palavras, da perda da capacidade humana de ouvi-los.
Para por fim aos três mil anos de Silêncio
O ser humano já não ouvia mais a voz dos Deuses e, com sua imperfeita consciência, foi criando um mundo muito diferente de que era esperado. Na antiguidade, a doença, a pobreza e o conflito ocorriam em escalas menores. Hoje, tomaram proporções mundiais. Calamidades naturais é uma preocupação em todo o planeta. Vírus e bactérias nocivas atravessam mares e oceanos, contaminando várias partes do globo. A ambição indecorosa das grandes nações se transfigurou em conflitos bélicos e guerras econômicas, fazendo surgir uma legião de pessoas que padecem de severas doenças e pobreza.
O físico Torahiko Terada advertiu há mais de cem anos: “Quanto mais à cultura avançar, mais rigorosas serão as calamidades”. Desta forma, os sentimentos, palavras e atos incorretos do homem civilizado, que não escuta a voz de Deus, provocam terríveis calamidades naturais, fazendo com que se percam muitas vidas. Durante a orientação citada no início deste artigo, Kyoshu-Sama afirmou ainda: Se reconhecermos que o julgamento terminou e que, junto com todos os seres, fomos perdoados por Deus e se, depois disso, retornarmos ao Paraíso que é a dimensão inicial poderemos, verdadeiramente, encerrar o “Juízo Final”.
Ou seja, ele nos deixa claro que, por meio do empenho em aprofundar nossa confiança no infinito amor de Deus, que a tudo perdoou, conseguiremos alcançar a consciência que nos permite aceitar e receber este amor, possibilitando-nos, enfim, concluir o “Juízo Final”. E o momento é agora. Sinto que, três mil anos depois, Deus está promovendo uma grande mudança capaz de fazer surgir uma nova consciência, muito mais aprimorada do que aquela que emergiu na antiguidade. Conseguiremos ouvir novamente sua vez.
Observando-se as mudanças da Natureza aprendemos mais sobre a mudança de Consciência
Deveríamos almejar ter uma consciência da qual emana, ininterruptamente, a mais profunda gratidão pelo amor de Deus; um coração, totalmente preenchido pelos bons sentimentos, os quais podem ser compreendidos como a própria vontade de Deus. Sabemos, porém, que não se consegue chegar a tal ponto de um dia para o outro. Para atingirmos esse nível, é necessário que ocorram diversas “mudanças de consciência”, que purifiquemos e renovemos várias vezes, o nosso coração. No ensinamento “Transição da Noite para o Dia”, de 1947, Meishu-Sama afirma: “Temos o contraste entre o dia e a noite não só no espaço de um dia, mas também em intervalos de um, dez, cem, mil, milhares ou milhões de anos”.
Nesta passagem, “dia” e “noite” não se referem aos períodos em que determinada faixa terrestre está sendo iluminada ou não pela luz do sol. Trata-se, pois de uma alusão a aspectos que se encontram em relação de correspondência e reciprocidade, ou seja, aspectos duais, como construção e destruição, yin e yang, vida e morte, bem e mal, alegria e sofrimento etc. A harmonia e a evolução de tudo o que há no Universo são garantidos por meio da constante oscilação entre um aspecto e outro. No ensinamento “Sejam Sempre Homens do Presente”, Meishu-Sama nos ensina este fato: Observemos a Natureza. Ela procura renovar-se e progredir constantemente, sem um minuto de interrupção. Ora, se tudo continua evoluindo, é natural que os homens também devam evoluir continuamente seguindo o exemplo da Natureza. Nesse sentido, eu mesmo faço esforço para elevar-me e progredir cada vez mais; este mês, mais do que no mês anterior; este ano, mais do que no ano passado. É indispensável o progresso do espírito, a elevação da individualidade. Portanto, devemos prosseguir passo a passo, pacientemente, visando á perfeição principalmente no que se refere á espiritualidade. Logo, assim como Meishu-Sama orienta neste ensinamento, gostaria que todos nós pudéssemos evoluir, renovando nosso sentimento e mentalidade cotidianamente.
É preciso cuidar para que a Mente e o Coração não fiquem estagnados
Bem, um ponto importante a ser observado para a renovação do sentimento e do modo de pensar é encarar as coisas como se estivéssemos de “cabeça para baixo”. A professora Miyako Yoshioka, filha de Meishu-Sama, relata sobre a maneira como seu pai gostava de analisar as coisas. Parece que Le sempre dizia: “Será que, se olhássemos as coisas colocando-nos, ao menos uma vez, de cabeça para baixo, não começaríamos a compreendê-los melhor? “Ela nos conta, ainda, que Meishu-Sama costumava dar os seguintes conselhos á família:
Não podemos ficar presos ás mesmas coisas e idéias, é preciso mudar. Não seja cabeça-dura: A cabeça tem que ser “macia” como um pedaço de tofu. As pessoas que repetem sempre a mesma coisa e que quase nunca mudam de pensamento têm muitas toxinas na cabeça. Aqueles que conseguem mudar o próprio sonen, o modo de pensar são verdadeiramente inteligentes. Não devemos sentir nenhum rancor por aqueles que vêm para nos polir muito pelo contrário, devemos ter gratidão. Do topo de uma montanha, nós nos damos conta de quão pequena é a existência humana. A partir do momento em que uma pessoa começa a se julgar importante, tem início sua decadência.
Depois de uma série de acontecimentos ruins, as coisas começam a melhorar. Ouçam até mesmo o que uma criança de três anos tem a dizer. Eu faço isso. As máximas acima nos falam da importância de nos livrarmos dos preconceitos e das idéias fixas. Há muitos ensinamentos que abordam este assunto: Dúvida, Daijo e Shojo (Amplo e Restrito) O que é limite, Espírito de “Izunome”, sejam sempre Homens do Presente, Egoísmo e Apego, Bom Senso, o Homem Depende de seu pensamento, Escravos das Tumbas, Teoria sobre os Efeitos Contrários e muitos outros. Enfim, é como se Meishu-Sama estivesse nos ensinando: Não permitam que sua mente e seu coração fiquem estagnados. Procurem observar as coisas a partir de diversos ângulos. Ajam sempre com a mente Alberta, de forma livre e desimpedida, aprendendo com os exemplos que a própria natureza nos dá. É “esta atitude mental que nos conduzirá naturalmente, á felicidade”.
O Apego faz com que nos equivoquemos em relação á verdadeira natureza dos Fatos
“A mescla da ambição desmedida e do apego destrói o corpo e a alma”. (Meishu-Sama)
No passado, encontrei muitas pessoas que, por viverem apegados ás suas idéias e experiências, não conseguiam mudar a maneira de sentir e de pensar, e, por este motivo, viviam num sofrimento sem fim. Por exemplo: Diretores de Empresas que, presos somente á própria experiência e incapaz de adequar-se ao progresso do tempo, levaram suas firmes á bancarrota e deixaram funcionários na rua da amargura. Um pai que, tomado pela tristeza e pelo ódio, ficou completamente perturbado e acabou assassinando a família amada.
Mães que, sem compreender o verdadeiro sentido da morte e se sentindo responsáveis pelo falecimento do filho, viviam em total desespero. Pais que, totalmente seguros de que estavam educando seus filhos de maneira perfeita, acabaram fazendo com que estes caíssem na marginalidade. Sogras que viviam sofrendo por estarem convencidas de que eram odiadas pelas noras. Mulheres que, por desejarem demais ser bem conceituadas, acabaram tornando-se depressivas. Mulheres que não conseguiam construir bons relacionamentos devido ao profundo sentimento autodestrutivo, que as fazia sentir-se horríveis. Homens presunçosos que se achavam melhores que todos e, em decorrência de tal atitude, foram desprezados e acabaram na solidão.
Eu não conseguiria enumerar a quantidade de homens que vi perder oportunidades de ascensão porque julgavam que já tinham um currículo escolar suficientemente elevado e não se preocuparam em se aperfeiçoar, em aprender um pouco mais. Enfim, estes são apenas alguns exemplos dentre muitos. Eu ministrava johrei a essas pessoas e orava a Deus e a Meishu-Sama para que o coração delas fosse tocado e que elas pudessem ser libertadas daquele sentimento egocêntrico e tão preso ás aparências. Escutei, com toda atenção, cada uma dessas pessoas. Baseado nos Ensinamentos de Meishu-Sama tentei explicar a elas o significado da purificação, manifestação do amor de Deus, e a maneira correta de entender as coisas e de viver uma vida com verdadeira paz e segurança alicerçada a prática do amor altruísta. Desta forma essas pessoas em sua maioria, conseguiram libertar-se dos grilhões que as acorrentáveis da que eram antes da purificação.
“Antes de tudo, tente colocar-se de cabeça para baixo”
A “mudança de consciência”, de mentalidade, se mostra particularmente necessária quando nos deparamos com um problema. E quanto mais grave, quanto mais difícil ele for, menos enxergamos e mais somos tendenciosos. Além disso, preocupação gera mais preocupação, o que só faz aumentar o sofrimento assim funciona o coração humano. Devemos primeiramente tomar conhecimento desta característica de nosso sentimento e, depois, tentar mudar um pouquinho nossa maneira de ver as coisas.
Por exemplo, quando alguém se interna para passar por alguma cirurgia é comum ficar ansioso e apreensivo. Contudo a preocupação diminuirá bastante se, em lugar disso, pensarmos: “Esta purificação é uma prova do amor de Deus, que a concedeu para meu crescimento. Deus utilizará o cirurgião como seu instrumento. Vou confiar e agradecer.” Entrego tudo nas mãos de Deus”. Além disso, acredito que, se nos dirigirmos aos médicos e enfermeiros, sempre com verdadeira gratidão, e dissermos: “Confio plenamente em vocês. “Estou em suas mãos”! O bem maior brotará em seus corações e isso fará com que tudo se encaminhe melhor. Aqueles que cuidam de pessoas que estão passando por purificação devem procurar entender o sentimento delas: chorar junto, ás vezes; animá-las em outras. De vez em quando, devem ficar calados para que a mudança de consciência dessas pessoas se realize de maneira tranqüila.
Se elas desconhecem completamente o conceito de purificação, é melhor não disparar coisas do tipo: “Purificação é amor de Deus, você deve ter gratidão”. Se as pessoas que vivem com você não compreendem sua fé, procure refletir e auto-analisar: “Será que são eles mesmos que não estão entendendo a minha fé? Será que, ao contrário, não é a minha conduta que está provocando a aversão deles á fé que professo?” Tenho certeza de que tal reflexão levará a uma solução. Para quem reclama, por exemplo, dos filhos, que dão muito trabalho, ou da nora, que é desatenta, que tal rememorar o passado/ Se assim o fizer , é bem possível que se lembre que, quando criança, também deu trabalho ou que, quando se casou, também não sabia muita coisa.
Com isso, certamente será mais fácil compreender o sentimento do outro e perdoá-lo. Conseguirá, até, aconselhar com mais amor. Há também os membros que se dedicam de corpo e alma á obra de Deus, pelo bem do próximo, e acabam se cansando. Sabemos que as pessoas que dedicam com fervor possuem um forte senso de responsabilidade. Assim, muitas vezes, aquele sentimento inicial, puro, de “quero ter a permissão” de dedicar, um dia acaba se transformando em “tenho” que dedicar, como se isso fosse uma pesada obrigação. Conseqüentemente, essas pessoas sofrem. Portanto, quando se sentir cansado, é bom mudar de ares: ler, viajar, apreciar obras de arte, enfim, fazer alguma coisa para renovar o sentimento e retomar as dedicações com prazer e alegria. É este estado de espírito que se encontra em concordância com a sagrada vontade de Meishu-Sama.
Desta forma, chega a ser interessante o quanto o mundo muda só de modificarmos um pouquinho nossa maneira de ver as coisas. Entretanto, este é só o primeiro passo, o primeiro nível. A professora Miyako, filha de Meishu-Sama, nos conta que, quando o mestre observava algo, ele conseguia captá-lo de todos os ângulos, mesmo que estivesse observando-o apenas de frente: “Meishu-Sama conseguia ver o todo a partir da observação de um aspecto. Quando nos aproximávamos dele, tenhamos a sensação de que ele estava lendo tudo o que se passava dentro de nós. Por isso, talvez, nós nos tornávamos dóceis na sua presença. Ou seja, Meishu-Sama não assimilava as coisas somente de um ou dois ângulos. Ele captava sua essência, em todos os aspectos, de uma só vez, num instante. Quanto mais elevado o nível, maior se torna a capacidade de ver as coisas por diversos ângulos e variados olhares. Não ficando presos somente a uma maneira de olhar, tornamo-nos donos de um coração livre e generoso.
O que é Garantido
Bem, para finalizar, gostaria de citar uma história contada por Daisetsu Suzuki (1870/1966) um grande estudioso do budismo. Trata-se da lenda de um monstro, chamado Satore (que em japonês, significa também “Iluminação”, “Sabedoria”. Satori gostava de perturbar as pessoas. Ele conseguia ler a mente delas e vivia nas montanhas, no meio da floresta. Certo dia, um lenhador estava cortando madeira com seu machado quando Satori apareceu e começou a dar palpite em seu trabalho, insistindo para que este abandonasse o que fazia e o acompanhasse.
O Lenhador, cansado de ser importunado, começou a pensar numa maneira de capturar Satori. Porém, como este conseguia ler a mente das pessoas, o lenhador não conseguia prendê-lo de maneira alguma. Já cansado, acabou desistindo desta impossível tarefa e voltou a se concentrar em seu trabalho. Ao levantar o machado para cortar a árvore, a lâmina escapou e atingiu Satori, que acabou morrendo. Moral da história: Quanto mais queremos alcançar com todo nosso esforço Iluminação, a Sabedoria mais nos afastou dela. Conscientes disso, devemos nos empenhar para fazer o que se apresenta diante de nós, pois quando conseguimos eliminar totalmente o apego, alcançamos a felicidade que tanto almejamos.
A Iluminação não é algo que consigamos conquistar, apreender. Com base nos termos da nossa fé, poderíamos dizer que Iluminação é “ter um sentimento, uma mentalidade, que esteja de acordo com a Vontade de Divina”. Contudo, não conseguimos alcançar tal estado somente citando essa definição. O que devemos fazer é livrar-nos das idéias, fixas, viverem uma vida correta, como Meishu-Sama nos orienta, com seriedade e persistência e, acima de tudo, trilhar o caminho da fé com o coração e a mente abertos. Somente assim, receberemos a oportunidade que deus nos preparou para realizarmos a mudança de consciência que culmina em felicidade.
Meishu-Sama nos ensina: “Não devemos exagerar na Fé. Não devemos definir tudo nem devemos deixar tudo vago. Não podemos nos entregar de corpo e alma em um primeiro momento e logo depois abandonar tudo. O ideal é ser constante. Devemos agir assim sempre”.
(21/11/1935)
Orientação: Revmo. Tetsuo Watanabe
(Presidente da Igreja Messiânica Mundial – IMM)
(Presidente da Igreja Messiânica Mundial – IMM)
Fonte: Revista IZUNOME
N. 52 – Abril / 2012 – São Paulo /SP.
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